É sabido que a História não perdoa os traidores. De Brutus a Silvério dos Reis, a traição figura com uma marca registrada: o poder a qualquer custo. Diz o ditado popular que por trás de todo grande líder há sempre um grande traidor, e a presidenta Dilma Rousseff já tem um para chamar de seu: Michel Temer.
O vice mente quando diz estar em silêncio e que apenas acompanha o processo de impeachment, quando, nas últimas semanas construiu ardilosamente um governo virtual e acenou com espaços de poder aos aliados de plantão. Enterra, assim, sua biografia ao desonrar o posto que ocupa com articulações para uma possível e ilegítima gestão fruto de armações.
Não será Temer a reunificar o país e isso a última pesquisa Ibope mostra bem. Com apenas 8% de aprovação da população e 1% de indicação espontânea, o vice-presidente é persona non grata. Um homem que não respeita a democracia e desmerece os 54 milhões de votos dados nas urnas ao projeto que atropelará se assumir a presidência da República.
É bom lembrar que a cada passo do golpe no Parlamento, as mobilizações de rua contrárias crescem. A cada dia, mais e mais pessoas se dão conta do que está por trás da suposta cruzada contra a corrupção. Um projeto entreguista, de desmonte do Estado e de cessão de direitos de trabalhadores e minorias conquistados nos últimos 13 anos.
Que espécie de governo será este? Um governo que pretende reunir perdedores do PSDB, representantes da FIESP, rentistas, neoliberais e acusados ou réus em processos de corrupção sem compromisso com o povo? É esperado que Temer revise sistemas universais e referências no mundo, como o SUS, flexibilize a CLT ao compasso do humor do patronato e risque do Orçamento uma boa parte dos programas sociais.
A votação esdrúxula dada pela Câmara dos Deputados no domingo (17) desnudou o caráter do pedido de impeachment. Apesar da mídia brasileira fazer vista grossa e do cinismo dos partidos de oposição, o que está em curso é a tentativa de um grupo político se alojar no poder de qualquer maneira. Isso é, sim, golpe. Fazem isso para cumprir acordos com forças internacionais, para impedir de forma não-republicana o combate à corrupção e por um fim à Lava-Jato antes que alcance os seus.
A própria imprensa estrangeira tem denunciado o ataque à democracia brasileira. CNN, The Guardian, BBC, El País, Le Monde, The Washington Post e outros relataram em inúmeras reportagens o jogo baixo e rasteiro do grupo de Temer e Eduardo Cunha.
Apesar das dificuldades no Senado Federal, é dever de todos os democratas e progressistas desse país ampliar e fortalecer uma rede de ação e reação aos ataques contra nosso Estado Democrático de Direito, de pressão nos senadores para fortalecimento da democracia, de defesa da nossa soberania e contra a ruptura democrática. Reforçar nas ruas e nas redes toda e qualquer ação contra a farsa do impeachment.
Se exitoso o golpe, uma coisa é certa: Temer e seu grupo não terão estabilidade política. Qualquer projeto sem o amparo do voto popular não terá respaldo da sociedade. Cabe a todos mostrar, com resistência e luta, que não aceitaremos passivamente um governo ilegítimo.
Após ler jornais brasileiros, Papa começa canonização de Temer
O Brasil pode ter mais um santo em breve e o primeiro vivo. O papa Francisco leu jornais brasileiros hoje e decidiu que Temer deve ser canonizado imediatamente. O Papa ficou impressionado com as façanhas de Temer.
“Estão dizendo que ele vai fazer muita coisa, resolver a aposentadoria, acabar com o déficit e tudo isso sem mexer nos direitos dos trabalhadores. Cacete, isso é um milagre”, disse o Papa.
A comunidade científica já está em polvorosa. Acredita-se que Temer poderá desenvolver em breve uma vacina para o zika.
(Sensacionalista)
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Sobre o episódio em que cuspiu em um sujeito que o insultou em um restaurante paulistano, José de Abreu diz que "Ser chamado de ladrão, ver sua mulher xingada de vagabunda e sua mãe de puta, isso não é muito legal". Também afirma que irá processar o homem que o ofendeu e denunciá-lo à Ordem dos Advogados do Brasil. Por último, Abreu defendeu a presidente Dilma e diz que o país será entregue para o PMDB e outros partidos com políticos "enroscados na Lava Jato". Leia o artigo abaixo:
A crise política que vivemos proporciona uma outra leitura sobre o nosso povo. De "homem cordial", o brasileiro passou a "homem troglodita". Sem escalas.
De que outra maneira explicar, por exemplo, a agressão ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega em um hospital, em fevereiro do ano passado? Não em um hospital qualquer, o que já seria intolerável, mas no Albert Einstein, instituição de referência no país.
Na ocasião, uma grita nacional deveria ter repreendido os que insultaram o ex-ministro em momento de extrema fragilidade, quando ele levava sua mulher, doente, para buscar atendimento.
Nada, contudo, aconteceu. Nada. Algumas notícias depois, o assunto morreu, mas o mau exemplo prosseguiu. Mantega foi hostilizado mais duas vezes, não em hospitais, mas em restaurantes.
Pouco depois, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha foi insultado, também num restaurante. O mesmo ocorreu com o comediante Gregorio Duvivier. E também com Jaques Wagner, ministro-chefe do gabinete pessoal da presidente Dilma Rousseff. O álcool dá coragem.
O disparate chegou a tal ponto que até mesmo o velório de José Eduardo Dutra, ex-presidente nacional do PT, ficou tristemente marcado por ofensas. Panfletos com a inscrição "petista bom é petista morto" foram jogados no local onde o corpo era velado. Talvez em outro país tal ato fosse tratado como um escândalo nacional. Aqui, mais uma vez, nada aconteceu.
Insultaram ainda o ex-senador Eduardo Suplicy (acreditam nisso, o Suplicy?) na Livraria Cultura de São Paulo. E a livraria deixou. A Cultura.
No Rio, Chico Buarque, acompanhado de amigos (o escritor Eric Nepomuceno e os cineastas Cacá Diegues, Rui Solberg e Miguel Faria Jr.), foi hostilizado na saída de um restaurante por um grupo de jovens antipetistas. Um deles confessou depois ter ido perguntar ao pai quem era mesmo Chico Buarque. Aconteceu alguma coisa? Nada.
Poderia citar aqui muitos outros exemplos. Em todos eles, nada aconteceu aos agressores e preconceituosos. Nada.
Por ser um ator conhecido e eleitor do PT, sabia que era um alvo fácil e que minha vez não demoraria a chegar.
Até que chegou mesmo, em um restaurante (mais uma vez) de São Paulo. Reagi como deu, com um cuspe. Ser chamado de ladrão, ver sua mulher xingada de vagabunda e sua mãe de puta, isso não é muito legal. Usei a juridicamente chamada "retorsão imediata à injúria". O injuriante, que se dizia advogado, deve saber que vai ser processado civil e criminalmente e denunciado à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Os fascistas tentaram transformar os vândalos agressores em vítimas. Mas as "vítimas", caso inédito nos anais da criminalidade, fugiram. Nem eles acreditaram na mentira de seus defensores.
Todos esses casos já prefiguravam o golpe que estava por vir, escondido sob a aparente legalidade do processo de impeachment.
Eu sinto muito pelos menos favorecidos. Vão entregar o Brasil ao PMDB carioca. De Eduardo Cunha. Do secretário Pedro Paulo Carvalho Teixeira, que bateu na própria mulher. Do prefeito Eduardo Paes, que gastou quase R$ 45 milhões em uma ciclovia que desabou após três meses de uso. De Moreira Franco, talvez o pior governador que o Estado do Rio já teve em sua história.
E a outros políticos do mesmo calibre, de outros Estados, de outros partidos, mas muitos com a mesma marca: enroscados na Lava Jato.
E o que pesa contra Dilma? Pedaladas. As mesmas que muitos outros políticos também deram. E que, suspeita-se, Antonio Anastasia, agora relator do processo de impeachment de Dilma no Senado, também deu. É tanta hipocrisia, tanto desapego à democracia.
Adeus, Brasil cordial.
JOSÉ DE ABREU, 69, é ator. Trabalhou, entre outros, nas minisséries "O Tempo e o Vento" (1985) e "Anos Dourados" (1986) e na novela "A Regra do Jogo" (2015/16), da TV Globo
Quando indagado sobre o espaço aberto por crises econômicas para o fortalecimento do campo progressista, Yanis Varoufakis, em palestra proferida na segunda-feira (25) na New School, em Nova York, foi categórico: "Tempos de grave recessão não são tempos revolucionários, são tempos que criam monstros".
A resposta pode à primeira vista parecer contraditória com a sua própria experiência recente enquanto ministro da Fazenda da Grécia por um partido de esquerda que deve boa parte de sua existência –e certamente de sua vitória nas urnas– à grave crise que assola o país. Quiçá o fracasso de Varoufakis nas negociações com a "troica" formada por União Europeia, Banco Central Europeu e FMI tenha lhe tirado o que lhe restava de otimismo.
O estudo dos economistas Hans Grüner e Markus Brückner, realizado a partir de dados de 16 países da OCDE entre 1970 e 2002, parece dar razão a Varoufakis quando conclui que uma redução de 1% na taxa de crescimento econômico tende a elevar em 1% a participação dos partidos de extrema direita no total de votos. O crescimento recente nas pesquisas de intenções de voto de um candidato que faz apologia pública à tortura sugere que o Brasil não foge à regra.
No livro "The Moral Consequences of Economic Growth", o professor de economia política de Harvard Benjamin Friedman parte de vasta evidência histórica para defender que o crescimento econômico não é um facilitador apenas de melhorias materiais, mas também da liberdade, da tolerância, da justiça e da democracia. A estagnação e a prosperidade mal distribuída, ao contrário, tenderiam a fomentar o aumento da violência e o surgimento de ditaduras.
Friedman trata, no entanto, de uma importante exceção à regra. Nos anos de 1930, os Estados Unidos conseguiram fortalecer os valores democráticos em meio à Grande Depressão. O autor atribui essa sorte ao New Deal do presidente Roosevelt, que qualifica como uma tentativa de "espalhar a oportunidade econômica o mais amplamente possível". Considera que, em vez de procurar "bodes expiatórios para excluir", o caminho escolhido foi "deliberadamente pluralista e inclusivo", com o objetivo não somente de restaurar a prosperidade econômica mas de criar maior igualdade de oportunidades.
Ainda que hipóteses históricas nunca sejam universais, como apontou o historiador Alexandre Gerschenkron, a opção por não realizar uma reforma tributária e por abandonar os investimentos públicos em prol da implementação de políticas recessivas e excludentes –no governo Dilma Rousseff e, mais ainda, em um eventual governo Temer sem legitimidade– parece, no caso brasileiro, nos tirar do caminho da exceção e nos colocar na espiral descendente do agravamento da crise econômica, do aumento da intolerância e do enfraquecimento da democracia.
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"O Minotauro Global", livro de Yanis Varoufakis que trata do papel central dos Estados Unidos e de Wall Street na absorção dos produtos e do capital financeiro globais entre o fim do sistema de Bretton Woods e a crise de 2008 –ano em que são desnudados os graves desequilíbrios da economia mundial que ainda prejudicam sua retomada–, acaba de ser lançado no Brasil pela editora Autonomia Literária.
Não é defesa do governo, é da democracia, diz presidenta da UNE
Para Carina Vitral, haverá grande reação da sociedade civil, dos movimentos sociais e das diversas forças democráticas do Brasil para barrar o impedimento da presidente Dilma Rousseff
Postado por Agência PT, em 28 de abril de 2016 às 09:00:40
Presença permanente nas manifestações contra o impeachment de Dilma Rousseff, a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, de 26 anos, afirma que não é a favor do governo, mas contra a legitimidade do impeachment. Em entrevista ao programa Espaço Público, da “TV Brasil”, ela disse que as manobras feitas para retirar uma presidenta do poder provocam danos ao país.
“Os movimentos seguem nas ruas para contrapor o que acontece no Congresso Nacional e para derrotar politicamente o impeachment. A gente mesmo [da UNE] tem várias críticas na área da educação, do programa de governo e do que foi esse segundo mandato da presidente Dilma. Mas a gente acha errado ‘impichar’ [afastar por meio de impeachment] uma presidente sem que haja crime de responsabilidade, sem que haja prova”, afirmou.
O processo de impeachment foi aceito na Câmara, por 367 votos a 137, e agora está em discussão na comissão especial do Senado.
Carina é contrária a eleições gerais e afirma que defender isso é legitimar democraticamente um golpe. “É dar o verniz democrático que eles precisam para o golpe fajuto”, destacou. Ela acrescenta que a condução do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deslegitima o processo.
“Dilma foi torturada na ditadura e torturada na democracia. O que é Jair Bolsonaro dedicar o voto dele ao torturador da Dilma?”, questionou Carina. No momento do voto na sessão de votação, na Câmara, da admissibilidade do impeachment de Dilma, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-R) exaltou a ditadura militar e a memória do coronel Carlos Brilhante Ustra – um dos chefes do DOI-Codi em São Paulo, local onde diversos presos políticos foram torturados.
A estudante criticou duramente os líderes dos movimentos a favor do impeachment de Dilma, os quais chamou de líderes fakes. “Acho que são líderes montados e colocados ali pra tentar conquistar a juventude que não foi pra rua nas passeatas da direita”. Carina disse ainda que, nas passeatas contra a Dilma, não há jovens e que a maioria dos manifestantes tem mais de 40 anos e formação universitária.
Líderes estudantis Ana Kelly Silva, representante da UMES/MA; Fabíola Loguercio, diretora da UBES; Carina Vitral, presidente da UNE; Andressa Versa, vice-presidente da UBES; e Vitória Davi, diretora da UBES em Santa Catarina (Foto: Lula Marques/Agência PT)
Classes C e D se veem fora da disputa política; para elas impeachment é briga da elite
Jornal GGN - Enquanto aumenta o número de matérias no exterior com denúncias sobre o golpe em curso no Brasil, parcela significativa do brasileiro médio não compreende a crise política e, menos ainda, a narrativa do golpe.
Segundo levantamento realizado pelo Instituto Data Popular, para ¾ da população – sobretudo das camadas C e D – o atual embate é fruto de uma briga de poderes das elites.
Em entrevista ao programa Brasilianas.org, o presidente do instituto, Renato Meirelles, destacou que “a narrativa do golpe é algo que fala muito bem para os formadores de opinião e tem um certo apelo na intelectualidade, mas fala muito pouco pra dona Maria e pro seu João”.
Portanto, as manifestações que tomam as ruas nos dois lados da disputa política – a favor ou contra o impeachment – apesar de serem significativas não correspondem a visão da população geral sobre o momento político. Ainda, segundo pesquisa do Data Popular realizada no início do ano, para 71% dos brasileiros os políticos opositores ao governo Dilma agem por interesses próprios.
“Quando a população foi perguntada se os políticos envolvidos na discussão do impeachment querem a saída de Dilma para melhorar a vida das pessoas ou para tomar o lugar da presidente, a resposta para ¾ dos entrevistados foi para tomar o lugar de Dilma”, acrescentou.
“Se pegarmos o perfil dos manifestantes pró e contra o governo nas passeatas todas, veremos que é um perfil claramente mais rico que a média da população brasileira”, completu o pesquisador, destacando em seguida que entre os grupos a favor da saída de Dilma há um conjunto maior de empresários, já nos grupos pró governo, uma classe formada por funcionários públicos, professores e intelectuais.
Um levantamento feito por outro instituto, o Datafolha, confirma as ponderações de Meirelles, revelando que o perfil escolar dos manifestantes dos grupos contra e a favor do impeachment é praticamente homogêneo. Segundo a pesquisa, que comparou o público do dia 13 de março (pró impeachment) com opúblico do dia 18 de março(a favor de Dilma), 77% dos manifestantes contra o governo disseram ter nível superior de escolaridade, e 78% dos manifestantes contra o impeachment também. Dos dois lados, 18% afirmaram ter o ensino médio completo, e 4% e 5%, respectivamente, o ensino fundamental.
A média educacional dos manifestantes é significativamente distinta da média educacional do país. Dados do IBGE de 2015 apontam que apenas 14% dos brasileiros tem formação universitária e 36% ensino médio completo ou incompleto.
Ponte para o quê?
Não saber dialogar com o eleitorado é um grande problema para o governo e explica porque não conseguiu mais adesão às manifestações contra o impeachment e, com isso, fazer pressão sobre o Congresso para evitar a aprovação do processo. A classe C compõe 54% do eleitorado.
Mas Meirelles analisa que a perda de capacidade de diálogo com a população se estende a classe política como um todo. “É como se os políticos fossem analógicos para o novo eleitorado que é digital, que quer se sentir participante”.
O presidente do Data Popular ressalta que a população média desconhece o plano de governo desenhado pelo vice-presidente, e um dos articuladores do impeachment, Michel Temer, chamado Uma Ponte para o Futuro, com propostas de baixíssima popularidade como a desobrigação do empregador pagar o salário mínimo para o funcionário (desindexação do salário mínimo), e a possível redução de investimentos em saúde e educação.
O erro dos governistas, portanto, foi não abrir essa discussão de forma clara e participativa para as classes C e D aderirem a mensagem que queriam passar.
“A narrativa do golpe, por mais justa que o governo considere que seja feita, sem absolutamente entrar no mérito se é ou não golpe, é uma narrativa que fala pra muito menos gente do que uma discussão de projeto de país, e esse projeto de país que elegeu o presidente Lula duas vezes e elegeu e reelegeu Dilma”, pontua Meirelles.
Queremos estado mínimo? Nada disso.
O presidente do Data Popular aponta que a maior insatisfação hoje para o brasileiro é a economia ruim. A população deseja um Estado que, “claramente, faz parte do dia a dia e promove condições para que o brasileiro tenha oportunidades que não teria sem a presença do Estado”.
A visão das classes C e D sobre o ideal de Estado é contrária às visões idealizadas pelas camadas políticas que disputam o poder, ou seja, de um lado a defesa do Estado mínimo, “dirigido por um CEO, e não por um presidente”, ironiza Meirelles, e de outro lado a defesa de um Estado robusto, com peso sobre a economia.
Conceitualmente, o nome do tipo de Estado que a população geral deseja é Estado Vigoroso. “É um Estado que oferece sim vagas nas universidades, mas que pode ser feito como é feito o Prouni, através da iniciativa privada operando as vagas que são dadas”, explica.
“O brasileiro gostaria muito que existisse um código de defesa do cidadão, nos moldes em que existe o código de defesa do consumidor. Por exemplo, hoje quando passa três horas numa fila de banco ele sabe para quem reclamar, mas quando passa três horas esperando na fila do SUS não sabe para quem ligar reclamando”, completa.
Durante sessão que elegeu comissão do impeachment no Senado, a petista defendeu postura responsável, baseada na Constituição
“Se quiserem ter o mesmo rumo da Câmara dos Deputados e fazer aquela discussão 'bonita' e sem base constitucional ou jurídica é uma opção”, afirmou hoje (25) a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), durante sessão de eleição da Comissão do Impeachment na Casa. A petista apelou para que os membros do Senado analisem o processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff de acordo com seu texto e com a Constituição.
“A peça de pedido de impedimento que veio da Câmara traz duas acusações. A primeira é o atraso de pagamentos ao Banco do Brasil e a segunda a edição de seis decretos de créditos suplementares. Não consta BNDES nem fala de pedaladas”, afirmou. Acusações que, para Gleisi, não configuram crime de responsabilidade. “Eles foram definidos como circunscritos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se quiserem discutir outras pedaladas vão ter que abrir um novo processo”, disse.
O processo de impeachment, regido pela Lei 1079/50, determina a exigência de conduta ilícita e dolosa. O chefe de estado deve ter praticado atos que encontrem respaldo na lei, durante o mandato vigente. Gleisi argumentou que as chamadas “pedaladas fiscais” referem-se ao ano de 2014 e, os objetos presentes na peça da Câmara contemplam apenas o atual mandato, ou seja, a partir de 2015. “Eu desafio, do ponto de vista constitucional, a qualquer senador me provar que tenha algum outro crime no processo”, afirmou.
“Mais do que uma defesa da presidenta, faço uma defesa da democracia e da Constituição. Se seguirmos o mesmo caminho da Câmara, vamos banalizar o instituto do impeachment”, disse a senadora. “É melhor, então, ter a coragem de propor um novo plebiscito para trocar o sistema de governo. Aí estaríamos fazendo um voto de desconfiança e não um julgamento de um crime”, afirmou, em referência ao sistema parlamentarista, onde o Legislativo possui a possibilidade de derrubar chapas executivas por ausência de base parlamentar.
O que o mais poderoso homem do Brasil, o herdeiro bilionário do império das organizações Globo, João Roberto Marinho, estava fazendo nos comentários do Guardian? É verdade, seu comentário recebeu um cobiçado tag de ‘recomendado’ pelos editores do Guardian – parabéns, João! – mas ainda assim, não é o lugar onde se espera encontrar o multi-bilionário plutocrata hereditário brasileiro.
Na dia 21 de Abril, publiquei um artigo no The Guardian, no qual abordava questões sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o papel da mídia dominante do Brasil, protagonizado pela Globo. João respondeu com raiva – e com óbvias mentiras. Os editores do Guardian puseram seu texto na seção de comentários. Vejam só, João critica meu artigo e me chama de mentiroso em alguns trechos de sua resposta.
Olha, João, como quase todos os brasileiros, eu tive que lutar bastante para ganhar meu espaço. Não herdei uma grande empresa e alguns bilhões dos meus pais. As coisas que tive que superar na minha vida foram muito mais duras do que seu esforço para me desqualificar com condescendência, e não é difícil demonstrar que sua resposta está cheia de falsidades.
De fato, a resposta de João merece mais atenção do que um mero comentário porque ela está recheada de propaganda enganosa e de falsidades pró-impeachment – exatamente o que ele tenta negar que a Globo esteja fazendo – e portanto revela uma grande coisa (Hoje, o comentário dele foi atualizado para uma carta).
Antes de entrar naquilo que João realmente fala, vamos começar com algo que ele não menciona: o histórico papel da Globo no Brasil. Sob o comando de seu pai, a Globo saudou e glorificou o golpe civil militar que removeu um governo de esquerda e democraticamente eleito no país. Ainda pior, passaram os 20 anos seguintes como o grande meio de propaganda da brutal ditadura militar que torturou e matou dissidentes e suprimiu toda e qualquer opinião divergente. Em 1984, a Globo simplesmente mentiu para o país quando descreveu um enorme protesto pró-democracia em São Paulo como uma festa pelo aniversário da cidade. A riqueza e o poder da família Marinho cresceram como resultado direto de sua servidão aos militares ditadores do Brasil.
No momento em que os protestos anti-governo explodiram, em 2013, já havia um amplo consenso entre os brasileiros a respeito do golpe militar, e a história da Globo se tornou um enorme constrangimento corporativo. Então, fizeram o que toda corporação faz uma vez que sua má conduta se volta contra sua marca: finalmente reconheceram o que fizeram e – quase meio século depois – pediram desculpas. Mas tentaram diluir sua responsabilidade dizendo – acertadamente – que outras organizações de mídia que ainda dominam o Brasil e que têm sido tão apoiadoras do Impeachment quanto a Globo (como Estadão e Folha) também apoiaram o golpe. Tentavam diminuir o apoio da Globo não só ao golpe mas também aos 20 anos de ditadura que se seguiram.
Essa é a infame história da Globo e da família Marinho no Brasil, uma de suas principais fontes de riqueza e poder, e um reflexo do papel que continuam a desempenhar – eles e suas bem pagas personalidades de TV. Essa não é a conduta de uma organização de mídia genuína. É a conduta de uma família oligárquica usando seus meios de comunicação para moldar e manipular a opinião pública em favor de seus interesses. Passemos agora ao comentário de João:
O artigo do Sr. David Miranda (“A verdadeira razão dos inimigos de Dilma Rousseff quererem cassá-la”, de 21 de abril, publicado pelo The Guardian) pinta uma falsa imagem do que estáacontecendo no Brasil hoje. Ele não menciona que tudo começou com uma investigação (chamada Operação Lava-Jato), que por sua vez revelou o maior esquema de suborno e corrupção na história do país, envolvendo os principais membros do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como líderes de outros partidos da coalizão do governo, funcionários públicos e magnatas dos negócios.
O que é completamente “falso” é a tentative de João de levar os leitores a acreditarem que a Lava Jato é o que está por trás do impeachment de Dilma. É verdade que o PT, como a maioria dos grandes partidos, se mostrou repleto de enormes problemas de corrupção, e que muitas de suas figuras estão implicadas na Lava Jato. O caso jurídico para o impeachment não está, no entanto, baseado em nada daquilo, mas em argumentos de que ela manipulou o orçamento público para fazê-lo parecer mais forte do que realmente era.
A enganosa tentativa de João de confundir o público estrangeiro misturando a operação Lava Jato com o impeachment de Dilma exemplifica perfeitamente o tipo de fraude e o viés pró-impeachment que a Globo vem disseminando institucionalmente por mais de um ano.
Além disso, as figuras políticas que a Globo vem cortejando, e que serão aqueles implantados pelo impeachment – incluindo o Vice Presidente Michel Temer e o Presidente da Câmara Eduardo Cunha, ambos do PMBD – são, ao contrário de Dilma, acusados de graves atos de corrupção pessoal, provando que, quando pessoas como João citam a corrupção para justificar o impeachment, esse é um mero pretexto para remover, antidemocraticamente, a líder que eles repudiam e instalar aqueles de sua predileção.
A imprensa brasileira em geral, e o Grupo Globo, em particular, cumpriram o seu dever de informar sobretudo, como teria sido o caso em qualquer outra democracia no mundo. Vamos continuar a fazer o nosso trabalho, não importa quem possa ser afetado pela investigação.
A sugestão de que a Globo é uma organização de notícias neutra e imparcial – ao invés de principal braço de propaganda da oligarquia brasileira – é cômica para qualquer um que já tenha assistido a seus programas. A rigor, a parcialidade da Globo, e em particular de seu principal show noturno de notícias, o Jornal Nacional, tem sido tão escancarada que se tornou uma fonte inesgotável de piadas. Essa é uma razão pela qual os manifestantes pró-democracia escolheram os edifícios das organizações Globo como alvos.
Photo: NurPhoto/Getty Images
Quase três décadas depois, foram forçados a se desculpar publicamente por seu papel no apoio ao golpe e à ditadura que protegeram os ricos do país às custas de todos os outros. Mas as organizações continuam sob o comando da mesma família, com as mesmas táticas e os mesmos objetivos.
Precisamente para evitar qualquer acusação de incitar manifestações de massa – como o Sr. Miranda agora nos acusa – o Grupo Globo cobriu os protestos sem nunca anunciar ou dar parecer sobre eles em seus canais de notícias antes de acontecerem. Globo tomou medidas iguais sobre comícios para a presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment: ela cobriu todos, sem mencioná-los antes deles realmente ocorrem, concedendo-lhes o mesmo espaço que foi dado aos protestos anti-Dilma. Quando o processo de impeachment começou na Câmara “Baixa”do Congresso, alocamos igual tempo e espaço para a defesa e acusação.
Que as corporações de mídia dominantes no Brasil são braços de propaganda de direita dos ricos não está em discussão. O universalmente respeitado grupo Repórteres sem Fronteiras acabaram de mostrar o Brasil em 104° lugar no ranking de liberdade de imprensa, explicando que isso se deve, em grande parte, ao fato de que a mídia no país é dominada e controlada por um pequeno número de famílias muito ricas:
De maneira pouco velada, o principal grupo de mídia nacional exortou o público a ajudar na derrubada da Presidenta Dilma Roussef. Os jornalistas que trabalham para esses grupos de mídia estão claramente sujeitos à influência dos interesses privados e partidários, e esse permanente conflito de interesses ocorre em claro detrimento da qualidade de seu jornalismo.
Jornalistas estrangeiros residentes no Brasil frequentemente apontam para o fato de que as principais organizações de mídia brasileiras são o oposto de neutras e imparciais. Stephanie Nolan, repórter do Canadense Globe and Mail baseada no Rio, escreveu no mês passado sobre uma coluna da revista Veja, que classificou como uma ”revista distribuída nacionalmente e que se inclina, como a maioria da mídia brasileira, para a direita.” Alex Cuadros, jornalista americano há muito tempo residente no Brasil, observou: “os principais meios de comunicação se inclinam politicamente para a direita, e sua cobertura frequentemente reflete isso.” Disse ainda: “Há muito pouca crítica da mídia no Brasil que não seja descaradamente partidária, então as grandes revistas podem distorcer os fatos sem grande medo de censura.”
O colunista da Folha, Celso Rocha de Barros, documentou como a mídia dominante no Brasil tem obsessão por notícias de corrupção relacionadas ao PT enquanto minimizam ou ignoram notícias igualmente chocantes sobre líderes da oposição de sua predileção. A Globo, por exemplo, visivelmente enterrou as notícias sobre a lista da Odebrecht. Um de seus comentaristas, Arnaldo Jabor, chegou a insinuar que se tratava de uma conspiração do governo.
Por mais de um ano, uma capa atrás da outra, a revista Época usouimagens manipuladoras e detratoras para incitar o público a apoiar oimpeachment. O Twitter das estrelas da Globo – do jornalismo e do entretenimento – estão cheios de propaganda cotidiana a favor do impeachment. Mesmo quando o Jornal Nacional tenta negar que está colocando grande peso a favor dos protestos pelo impeachment, não funciona: glorificam esses protestos e dão a eles muito mais tempo do que os protestos opostos:
Não há nada inerentemente errado com uma mídia partidária e ativista. Todas estas organizações têm jornalistas competentes trabalhando para elas, e fazem boas reportagens, mesmo sobre este sério escândalo de corrupção. Mas o que está errado é enganar o público dizendo a ele o que todos sabem ser falso: que a Globo e outras grandes organizações são neutras e livres de opinião, que são meros observadores dos eventos políticos ao invés de seus privilegiados agentes.
O Grupo Globo não apoiou o impeachment em editoriais. Ele simplesmente declarou que, independentemente do resultado, tudo tinha de ser conduzido de acordo com a Constituição, que na verdade tem sido o caso atéagora.
João insiste que a Globo não tem posição editorial a respeito do impeachment, e então – na mesma sentença! – passa a justificar o impeachment como perfeitamente legal e constitucional, um debate que está em acirrada disputa entre juristas.
O Supremo Tribunal Federal – onde oito dos onze juízes foram nomeados pelas administrações do PT presidentes Lula e Dilma – aprovou todo o processo.
De fato, a Suprema Corte ainda não julgou se as acusações contra Dilma justificam ou não o impeachment perante a Constituição, e há muitosperitos que acreditam – contra o que pensa o João – que não. Um ex-membro desse tribunal, que supervisionou a acusação de autoridades do PT pelo escândalo do mensalão, o juiz Joaquim Barbosa, disse na semana passada que “sente um ‘mal estar’ com a fundamentação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e que a alegação ‘é fraca e causa desconforto.’”
Claro, é permitido que João discorde do ex-Ministro Barbosa, mas ele tem que parar de fingir que não está apoiando vigorosamente o impeachment. Tudo o que João escreveu mostra isso.
Por último, a afirmação de que o Grupo Globo pauta a mídia nacional, especialmente vindo de um cidadão brasileiro, só pode ser feita de má fé. A imprensa brasileira é uma paisagem vasta e plural de várias organizações independentes, 784 jornais diários impressos, 4.626 estações de rádio, 5 redes nacionais de transmissão de televisão, 216 canais a cabo pagos e outra infinidade de sites de notícias. Todo mundo compete com grande zelo pelo o público brasileiro, que por sua vez é livre para fazer suas escolhas. Entre os concorrentes fortes, o que se encontra é a independência, sem qualquer tolerância para ser conduzido.
A única “ma fé” é a tentativa de João de negar o domínio de seus próprios meios de comunicação. Em junho de 2014, The Economist publicou um artigo sobre a Globo. A manchete? “Domínio da Globo.” A reportagem mostrava que “não menos de 91 milhões de pessoas, quase a metade da população, sintonizam a TV todos os dias: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, acontece uma vez por ano” – no Super Bowl. Em suma, “a Globo é certamente a empresa mais poderosa do Brasil, dado seu alcance de tantos lares.”
Muitos dos meios citados por João são de propriedade da Globo e sua irmã plutocrática, a Abril. The Economist explicou: “A Globo têm estações de TV paga, revistas, rádios, produção de filmes e jornais como parte de seu império.” Como resultado, “críticas são afastadas pela fatia de publicidade e audiência da empresa. Ela controla tudo, desde o acesso dos brasileiros às notícias até as taxas de mercado para os salários dos jornalistas.”
Como a colunista Vanessa Barbara apontou, no ano passado, no The New York Times: “Em todo lugar que vou há uma televisão ligada, em geral na Globo, e todos estão olhando hipnoticamente para ela.” Disse também: “sendo a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer considerável influência em nossa política.”
Que a Globo desempenha um papel dominante na opinião pública está provado pelos dados, mas também pelas ações governamentais. Sob Lula e Dilma, o governo brasileiro despejou bilhões de dólares em dinheiro dos contribuintes para a gigante de mídia.
É verdade que a Globo não detém todos os meios de comunicação influentes. Há uma pequena quantidade de outras famílias bilionárias que são donas de quase todo o resto.
Quando os Repórteres sem Fronteiras publicaram semana passada seu Ranking de Liberdade de Imprensa de 2016, e o Brasil apareceu em 103°lugar, eles destacavam a violência contra jornalistas e também outro fato importante: “A propriedade dos meios de comunicação continua muito concentrada, especialmente nas mãos de grandes famílias ligadas àindústria que são, muitas vezes, próximas da classe política.”
Não é só a propriedade da mídia que carece de diversidade, mas também aqueles que eles contratam para trabalhar. Como a Folha documentou no ano passado, “de 555 colunistas e blogueiros de 8 veículos da imprensa (Folha, O Estadao de S. Paulo, O Globo, Epoca, Veja, G1, UOL e R7), 6 são negros. Também por isso o debate sobre racismo ocorre longe da maioria da população a quem, no dia a dia, ele não afeta ou interesse.” É claro que essa enorme disparidade molda a cobertura da mídia de maneira geral.
É verdade que a internet está ameaçando o domínio da Globo. As mídias sociais pormitiram aos brasileiros compartilhar informação por fora do império global, e agora podemos ler artigos e jornais estrangeiros (como oThe Guardian) que fornecem informação que ultrapassa muito os estreitos limites de opinião permitidos pela Globo, Abril/Veja e Estadão.
É precisamente por isso que João está combatendo artigos como os meus em jornais estrangeiros: porque ele tem medo do que acontecerá se ele perder o controle do fluxo de informação que os brasileiros recebem. Como a família Marinho sabe desde a década de 90, quando Roberto Marinho conseguiu fazer um tribunal brasileiro barrar a transmissão de um filme extremamente crítico à Globo (“Além do Cidadão Kane”: disponível abaixo) e o tornou viral, a internet ameaça o monopólio da Globo sobre as notícias e a opinião pública. É por isso que estão furiosos. É também por isso – como explico nesse vídeo – que é tão vital proteger e salvaguardar o livre acesso à internet.
O entendimento pleno entre Michel Temer e os ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes, a respeito da farta percepção de golpe, não surpreende, por nenhum dos três. Mas a adesão de Celso de Mello a manifestações públicas de fundo político, sem razão alguma para sair de sua área, é mais uma contribuição para a difundida inconformidade com o Supremo na atual crise.
Causa mais citada pela inconformidade, a protelada apreciação do afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara –pedido há quatro meses pelo procurador-geral Rodrigo Janot– recebeu afinal uma explicação, embora indireta, do ministro Teori Zavascki. Em síntese, a acusação principal no pedido são os trambiques de Eduardo Cunha contra a ação do Conselho de Ética que o ameaça. No entender de Zavascki e outros, porém, o tema compete à Câmara.
O problema se repete: com o êxito dos pulos de Cunha e o alheamento do Supremo, nada resta a fazer contra o comando da Câmara por um réu em processo no próprio Supremo. E no tribunal os ministros citados e ainda outros, como Dias Toffoli e Cármen Lúcia, dizem que "as instituições e a democracia estão funcionando".
Celso de Mello considera "um gravíssimo equívoco" as referências de Dilma a golpe. Porque "o procedimento destinado a apurar a responsabilidade da senhora presidente da República respeitou todas as fórmulas estabelecidas na Constituição".
As fórmulas. Ou seja, Celso de Mello considera a forma, e se satisfaz. Mas o golpe não está na forma, está na essência, no argumento, que apenas se vale da forma. E este argumento consiste em, de repente, considerar crime, para efetivar um impeachment, uma prática financeira aceita nos governos anteriores e em atuais governos de Estados. Um casuísmo, portanto, um expediente oportunista.
Integrante mais antigo do Supremo, nomeado ainda por Sarney, Celso de Mello é o ministro que mais recorre a bases teóricas do Direito, em imensas digressões engordadas com citações a autores, jurisprudências e votos passados. O seu súbito enlace com o formalismo, e do mais simplório, pode satisfazer-lhe a visão política, mas trai sua dificuldade de sustentar com argumentos jurídicos o golpe da repentina criminalização de créditos suplementares, velhos conhecidos da Fazenda, do Tesouro e do TCU.
Dias Toffoli também tem o que dizer sobre o que os jornais disseram que Dilma diria na ONU mas não disse, e por isso os que inventaram que ela diria agora se dizem surpresos. Toffoli: "Alegar que há um golpe em andamento é uma ofensa às instituições brasileiras. E isso pode ter reflexos ruins no exterior". Os reflexos ruins já estão na imprensa internacional, que não se deixou enganar. Sem falar no manifesto de 8.000 juristas mundo afora, denunciando o golpe.
"Ofensa às instituições" é a trama em montagem para separar o processo, no TSE presidido por Toffoli, sobre as contas de campanha da chapa Dilma-Temer. Com um processo para cada um, como Gilmar Mendes articula, Temer pode ser absolvido enquanto Dilma é condenada. Gilmar Mendes chegou a dizer que "o tribunal (Superior Eleitoral) tinha posição contrária, mas agora podemos ter um quadro novo". Outro casuísmo, outro expediente oportunista. O golpinho filhote do golpe.
Em importante artigo na "Ilustríssima" de domingo (17) (pág. 6), cuja leitura recomendo muito, Daniel Vargas faz uma análise original e aguda do Judiciário e, em particular, do STF. Constitucionalista, doutor em Direito Público por Harvard, em dado exemplo diz: "Cármen Lúcia e Dias Toffoli, ao afirmarem publicamente que impeachment não é golpe, pois está previsto na Constituição, abusam da retórica para, implicitamente, oferecer suporte ao movimento político de destituição da presidente Dilma Rousseff".
É o que fazem também os outros ministros aqui citados, com exceção de Teori Zavascki, que mantém a reserva devida por magistrados. São 35 os partidos com registro. Mais os meios de comunicação. O Supremo Tribunal Federal não precisa ser mais do que Supremo Tribunal Federal. Aliás, precisa-se que seja o Supremo Tribunal Federal.
domingo, 24 de abril de 2016
Leia o artigo que enfureceu a família Marinho da Rede Globo
“A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment” apresenta os interesses ocultos ao golpe, como os do setor midiático
Ato na Rede Globo. Cinquenta anos de manipulação. São Paulo, 26 de abril, de 2015. Foto: Roberto Parizotti.
A publicação de um artigo de David Miranda no jornal britânico “The Guardian” provocou forte reação das Organizações Globo. Por meio de seu vice-presidente, João Roberto Marinho, o grupo Globo insistiu para que o jornal publicasse uma resposta ao texto, dizendo que jamais houve apoio ao processo de impeachment contra a presidenta, Dilma Rousseff.
No entanto, o jornal O Globo publicou dois textos que desmentem Marinho, os editoriais intitulados “O impeachment é uma saída institucional da crise” e “Tempo no impeachment corre contra o país”.
Em seu texto “A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, Miranda apresenta ao mundo os interesses que estão por trás do golpe em curso no Brasil. Entre eles, o da mídia, setor extremamente concentrado no país.
“A maioria dos grandes grupos de mídia atuais (…) apoiou o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país”, escreveu Miranda. “Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?”
Leia a seguir a íntegra do artigo que enfureceu a família Marinho da Rede Globo:
A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.
Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?
Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.
Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.
Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.
O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.
A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.
Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.
É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o Senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.
Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”
Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.
Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.
O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.
Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido à grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando virem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.
O mais instável de tudo é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.
Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.”
sexta-feira, 22 de abril de 2016
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Por Fernanda Cruz
Alunos de escolas técnicas estaduais fazem uma manifestação na praça Coronel Fernando Prestes, na Luz, centro da capital paulista. Eles reivindicam punição aos desvios na merenda escolar. A concentração do protesto começou às 7h, e, por volta das 10h30, o grupo vai seguir em passeata pela região central.
A Polícia Militar não fez estimativa do número de manifestantes no protesto, mas os estudantes calculam que pelo menos mil pessoas participam do ato, incluindo escolas de São Paulo, Tiquatira, Itaquera, Paulistano, Guaracy Silveira, Parque da Juventude e Professor Camargo Aranha.
Segundo Guilherme da Silva, de 15 anos, que estuda na Escola Estadual Amélia Kerr Nogueira, um grupo pulou catracas na estação Sumaré do metrô, região oeste, para chegar à manifestação no centro. Os 15 adolescentes, da Escola Fernão Dias Paes, disseram que sofreram agressões dos seguranças do metrô e que um deles foi detido e, depois, liberado.
“Eu fui tentar trocar ideia com o cara [segurança do metrô] e ele me deu um soco no nariz e numa menina. A gente seguiu o trajeto. Na estação Paraíso, quando fomos entrar no metrô, um estudante do Fernão Dias foi puxado pelo colarinho pelo segurança. Fizemos resistência para não levar aquele estudante”, disse Guilherme.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Metrô, que ainda não tem informações sobre o ocorrido.
Falta de alimentação
Chablau, estudante da escola técnica São Paulo, integrante do grêmio, diz que os alunos não recebem merenda e nem almoço, mesmo ficando em período integral na instituição. Grande parte das escolas nunca teve merenda ou almoço. “Aqui na ETCs de São Paulo, quem faz ensino integrado passa o dia inteiro na escola, e tem que esquentar marmita no microondas. Só que são três microondas para todos, incluindo a Fatec. Então, são seis mil estudantes para três micro-ondas. A gente acaba não comendo. Os enfermeiros daqui dizem que muita gente passa mal porque não come”, disse a aluna.
A assessoria do Centro Paula Souza informou, em nota, que não houve corte de merenda nas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs). As unidades recebem merenda diretamente da Secretaria da Educação, responsável pelo fornecimento em todo o Estado, ou de prefeituras conveniadas com a Secretaria, segundo o comunicado.
"O Centro Paula Souza está tomando providências para adaptar as unidades que ainda não oferecem merenda. Isso acontece porque apenas em 2009, com a Lei Federal nº 11.947, os alunos das Etecs passaram a ter esse direito e as escolas precisaram adequar sua infraestrutura à nova realidade", comunicou a assessoria.
A Agência Brasil entrou em contato com a secretaria estadual da Educação, que informou que enviará nota comentando as reivindicações.
Fraudes
Uma força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público investiga, na Operação Alba Branca, deflagrada no dia 19 de janeiro, um esquema de fraude na compra de merenda escolar de prefeituras e do governo paulista. Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Ribeirão Preto, as fraudes nas contratações da merenda, feitas entre 2013 e 2015, chegam a R$ 7 milhões, sendo R$ 700 mil destinados ao pagamento de propina e comissões ilícitas.
Segundo o Gaeco, os crimes envolvem 20 municípios: Americana, Araras, Assis, Bauru, Caieiras, Campinas, Colômbia, Cotia, Mairinque, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Novaes, Paraíso, Paulínia, Pitangueiras, Ribeirão Pires, São Bernardo do Campo, Santa Rosa de Viterbo, Santos e Valinhos.
quarta-feira, 20 de abril de 2016
senadores protocolaram nesta terça-feira (19) uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê a realização de nova eleição presidencial em outubro deste ano.
Os senadores Walter Pinheiro (sem partido-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Lídice da Mata (PSB-BA), Cristovam Buarque (PPS-DF), João Capiberibe (PSB-PB) e Paulo Paim (PT-RS) já já tinham anunciado estavam trabalhando no texto da proposta e começaram hoje a colher assinaturas. A PEC recebeu 29 assinaturas de apoio – duas a mais que as necessárias para que comece a tramitar.
Pela proposta, o presidente e o vice-presidente eleitos neste ano terão mandato tampão de dois anos, contados a partir de 1º de janeiro de 2017. Assim, uma nova chapa presidencial seria eleita nas eleições gerais de 2018 e assumiria em 2019.
De acordo com os autores da proposta, a PEC não tem a pretensão de acabar com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e seguiria paralelamente a ele. O processo chegou ontem (18) ao Senado, depois de ter sua admissibilidade aprovada domingo (17) na Câmara dos Deputados. Os senadores que encampam a proposta de nova eleição presidencial em outubro esperam que a população adira à ideia, por não reconhecerem no vice-presidente Michel Temer legitimidade para governar o país, caso Dilma tenha o mandato cassado.
Depois de protocolado na Mesa Diretora do Senado, o texto será analisado para definição das comissões de mérito pelas quais passará. Caso seja aprovado no Senado, em dois turnos de votação no plenário, o texto ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados, também em dois turnos.
O processo de destituição de Dilma Rousseff não resolve nenhuma das crises do país
A aprovação da abertura de processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por uma esmagadora maioria da Câmara dos Deputados abre uma etapa no Brasil marcada pela incerteza. A agonia à espera da presidenta nas próximas semanas para acabar previsivelmente saindo derrotada e humilhada pela porta de trás da história não resolve nenhuma das incógnitas que se observam sobre o futuro do gigante sul-americano. O impeachment deixa um país dividido politicamente, em lados conflitantes socialmente e imerso na pior crise econômica de sua história. Também em uma crise moral à qual somente o proverbial otimismo dos brasileiros poderá dar solução.
O Brasil entra em uma transição às cegas cuja primeira parada será o Senado, quando, ainda no início de maio, decidir sobre o caso Rousseff. Bastará uma fácil maioria simples para que a presidenta seja afastada do poder por até 180 dias enquanto é julgada em ambas as Casas. Se, como previsível, for decretada sua morte política, o poder passará ao vice-presidente, Michel Temer, seu antigo aliado e agora o pior inimigo, dirigente do conservador Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e sob suspeita de corrupção. Um personagem obscuro a quem os mercados pedem uma dura política de ajuste e uma reforma tributária: provavelmente necessárias, mas com certeza impopulares.
A confluência dos interesses de Temer com outros dois personagens de seu próprio partido – Eduardo Cunha, presidente da Câmara de Deputados, o evangélico conspirador do impeachment, acusado pelo Ministério Público de possuir milionárias contas na Suíça alimentadas com subornos da Petrobras, e Renan Calheiros, presidente do Senado, um artista da hipocrisia política também investigado por corrupção – deu motivos aos seguidores do Partido dos Trabalhadores (PT) para considerar todo o processo “um golpe de Estado constitucional” para desalojar a esquerda do poder.
Golpe ou mudança de rumo ante circunstâncias de extrema gravidade econômica – como defendem os partidários do impeachment –, dois fatos são inquestionáveis: ocaso Petrobras expôs uma corrupção gigantesca na classe política brasileira que afeta todos os partidos, esquerda e direita, sem distinção; e, até agora, a única não acusada de enriquecimento pessoal foi a própria presidenta. Ao fim e ao cabo, o impeachment se baseia em um tecnicismo fiscal: a prática ilegal de recorrer a empréstimos de bancos públicos para equilibrar o orçamento.
O Brasil fica em um limbo político às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio, inquietado pela necessidade de dar resposta à recessão e encontrar uma saída à crise política. A destituição de Rousseff não deve deter a limpeza dos esgotos do poder. Mas muito menos propiciar – como se viu no domingo, com o lamentável espetáculo oferecido pelos deputados na votação, onde não faltaram gritos, empurrões, cantorias e até uma cuspida – que a democracia brasileira saia desse transe debilitada.