sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Viomundo: Jandira Feghali critica a Globo durante debate ao vivo

Em defesa da TV Globo, depois das críticas da candidata a prefeita do Rio, Jandira Feghali (PCdoB), a apresentadora Ana Paula Araújo disse:
1. A Globo não tem “obrigação” de promover debates, ou seja, não se trata de uma concessão pública que deve satisfação à sociedade que lhe concede o direito de uso do espectro eletromagnético;
2. Ao fazer o debate, a Globo “se expõe” a críticas — quando, na verdade, deveria pairar sobre a sociedade, uma vez que ela pode criticar mas não pode ser criticada;
3. “Não é a TV Globo que está sendo avaliada”. Por que não? Mais uma vez, é a ideia de que a emissora paira acima de todas as críticas e da própria sociedade que lhe dá o direito de explorar uma concessão pública.
Sobre o apreço da Globo pela democracia, basta lembrar o editorial “Ressurge a Democracia”, do golpe civil-militar de 1964, ou o editorial “Julgamento da Revolução”, de 1984. Ou seja, vinte anos depois do golpe a Globo ainda chamava o golpe de Revolução!

Do Consultor Jurídico
Com receio de que as investigações relacionadas ao setor de operações estruturadas da Odebrecht sejam prejudicadas, o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro, decretou sigilo do inquérito da Polícia Federal que apura crimes relacionados a esse departamento.
De acordo com procuradores e policiais da operação “lava jato”, tal seção da Odebrecht coordenava o pagamento de propinas a agentes públicos em troca de obras de grande porte, como a linha-4 do metrô de São Paulo, o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e o Porto de Laguna, em Santa Catarina.
Uma planilha do setor de operações estruturadas apreendida pela PF aponta que entre 2008 e o final de 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo o ex-ministro Antonio Palocci. Os investigadores afirmam ainda que sobrou, em outubro de 2013, um saldo de propina de R$ 70 milhões, valores estes que seriam  destinados também ao ex-ministro para que ele os gerisse no interesse do partido.
Com base nessas informações, Moro autorizou a prisão temporária de Palocci, do ex-secretário da Casa Civil Juscelino Antônio Dourado e de Branislav Kontic, que atuou como assessor na campanha de Palocci a deputado federal em 2006. As detenções foram feitas na última segunda-feira (26/9).
No dia seguinte, a PF abriu um inquérito para investigar as obras citadas na planilha do setor de operações estruturadas da Odebrecht. Porém, na quinta (28/9), Sergio Moro tornou as apurações sigilosas, conforme informou o site Paraná Portal. A medida justifica-se, de acordo com o juiz, pelo fato de as investigações terem “desdobramentos imprevisíveis, o que poderá levar à necessidade de novas diligências, inclusive novas quebras e buscas”.
Dessa maneira, Sergio Moro restringiu às apurações até aos investigados. Estes só poderão saber o que está sendo examinado mediante requerimento, que será analisado caso a caso. Somente a PF e o Ministério Público Federal terão acesso automático aos dados. Como Palocci seria ouvido nessa quinta, o juiz da “lava jato” permitiu que sua defesa tenha conhecimento dos fatos examinados pela força-tarefa da operação.
Precedente polêmico
Em março, Sergio Moro decretou o sigilo de uma planilha da Odebrecht que cita dezenas de políticos e partidos como supostos destinatários de valores da construtora. A medida foi tomada para preservar as investigações.
Mas a decisão do juiz federal gerou polêmica, pois pouco antes, ele havia divulgado conversas telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive uma que envolvia a então presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, Moro justificou seu ato sob o fundamento de que os diálogos do petistas eram de interesse geral da sociedade.
Falta de provas
Antonio Palocci é acusado de receber propina para trabalhar pela Odebrecht dentro do governo e no Congresso Nacional. Mas como não foram encontradas provas do recebimento dessas quantias, Palocci deve ficar preso, “enquanto não houver tal identificação”.
Essa é a motivação usada pelo juiz Sergio Fernando Moro, titular da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, onde corre a maioria dos processos da “lava jato”, para mandar prender o ex-ministro.
Para Moro, há indícios de que Palocci usa de um “modus operandi” já visto em outras ocasiões, de usar “contas secretas no exterior ainda não identificadas ou bloqueadas”. E, enquanto essas contas não forem encontradas, “há um risco de dissipação do produto do crime”.
O juiz da "lava jato" também determinou o bloqueio de quase R$ 31 milhões de reais do ex-ministro, medida que foi cumprida pelo Banco Central nessa quarta (28/9).
Inquérito 5054008-14.2015.404.7000

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

da Folha
por Janio de Freitas
Nem a "investigação" do ministro da Justiça se justifica, antes devendo-se um agradecimento a esse precário Alexandre de Moraes; nem é verdadeiro que desembargadores paulistas tenham apenas anulado os cinco julgamentos e condenações precedentes dos 74 PMs do massacre de 111 presos no Carandiru.
A tal investigação, por Moraes ter informado jornalistas de nova operação da Lava Jato nesta semana (a prisão de Antonio Palocci), está a cargo da Comissão de Ética da Presidência. A Comissão, porém, não tem condições de investigar a ética de alguém, se não olha à sua volta e toma as providências consequentes.
Está na sua vizinhança, com banca de ministro na Presidência, um "anão do orçamento", integrante do grupo de deputados que fraudava o Orçamento nacional em proveito próprio. Também com banca na Presidência, também o recordista de fraudes em concorrências, mancomunado com as grandes empreiteiras quando governador do Estado do Rio. E, para não perder mais tempo, um presidente homenageado por delações na Lava Jato e pendurado em processos na Justiça Eleitoral. Nenhum deles notado pela Comissão de Ética.
Acima de tudo, Alexandre de Moraes fez uma delação verdadeira. Quando delações de óbvia falsidade são feitas para receber prêmios, e aceitas como válidas, a delação que se comprovou, já de um dia para o outro, não deveria passar pela inversão ética de ser ela a perseguida.
Se esses argumentos forem insuficientes, ainda há o serviço prestado ao país por Alexandre de Moraes, como convém a um ministro da Justiça. No governo Dilma, os aécios não se cansaram de propalar que o governo interferia na Lava Jato, prejudicava-a, queria controlá-la. Até que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em nome da Lava Jato, disse que o governo jamais fez, ou tentou, qualquer interferência na operação.
Moraes e sua delação aos repórteres revelaram mudança essencial. Mostrar-se informado de próximas ações da Lava Jato significa que o governo atual extinguiu a distância que o separaria das operações, como se deu com a liberdade plena entregue, por Dilma e José Eduardo Cardozo, à ação da Polícia Federal.
Conhecimento das ações da Lava Jato, sendo a PF subordinada ao ministro, só tem sentido se for para praticar o poder hierárquico de influência. Para quem se lembra do que disseram Romero Jucá e outros, sobre a necessidade e modo de "parar essa sangria" feita pela operação, Moraes deu sinal de grande utilidade. Por mim, muito obrigado.
O sexto julgamento do Carandiru, por sua vez, ocorre quase um quarto século depois do massacre. Os desembargadores Ivan Sartori, relator, Camilo Léllis e Edison Brandão determinam que o processo volte ao começo. Por sorte, não pensaram em começá-lo um pouco mais atrás, pelo morticínio de 111 presos.
Cinco conjuntos de condenação anulados em sequência, um quarto de século de liberdade e impunidade dos acusados –o que é isso, se não for uma forma de absolvição? Os 74 PMs estão absolvidos de fato, em demonstração irrefutável do massacre que o sistema de Justiça –não os juízes como indivíduos, o sistema que os engolfa– aplica na ideia de Justiça.
MEMÓRIA
Shimon Peres era o último estadista vivo. Com a grandeza que tinha, sua simples existência era suficiente para impedir a natureza dos netanyahus de levá-los até onde desejariam.
MISTÉRIO
Pesquisas Datafolha: entre a de 21 e a de 26 de setembro, o líder Marcelo Crivella cai de 31% para 29%. Pesquisas Ibope, fechadas em 13 e 25 de setembro: o líder Marcelo Crivella sobe de 31% para 35%. Apenas 24 horas entre os fechamentos e, no entanto, tendências opostas com seis pontos de diferença (ou cerca de 20%).
Nos demais candidatos, curiosamente, os resultados das duas pesquisas foram iguais ou vizinhos.
Mais problemas, daqui a pouco. 

A Lava Jato só acaba quando acabar com o PT
Consumado o golpe para derrubar a Presidente Dilma e interromper o ciclo dos governos do PT que o PSDB não conseguiu licitamente nas últimas quatro eleições presidenciais, a Lava Jato seria encerrada. Uma vez concretizado o plano inicial, a Operação perderia sua razão de ser. Esta era a aposta prevalente na crônica política.
A evolução da Lava Jato, entretanto, indica que os controladores da Operação preferiram evitar o alto custo político de encerrá-la logo após a farsa do impeachment. Optaram por continuá-la, porém ajustando seu caráter, que passou a ser abertamente eleitoral e partidário.
Confortáveis no regime de exceção e de arbítrio que dá guarida à sua atuação político-ideológica, os juízes, delegados e procuradores da Lava Jato removeram a máscara da imparcialidade e da isenção que nunca tiveram.
Perderam o pudor, abandonaram o menor senso de decência pública e atuam acima e à margem da Lei. Se mostram tão despudorados quanto o candidato a prefeito de Curitiba que, sem auto-censura e vergonha humana, admite vomitar com o cheiro de pobre [sic].
Esses personagens se sentem poderosos, heróicos e inatingíveis graças à Rede Globo e à mídia que, no noticiário, incensa-os e glorifica-os, assim como sublima os não-valores que eles representam.
A virulência empregada contra o PT e o ex-presidente Lula assumiu um padrão totalitário nas fases recentes da investigação.
Nas semanas pré-eleitorais, a força-tarefa promoveu um espetáculo propagandístico para condenar midiaticamente o ex-presidente Lula sem provas, mas com “muita convicção”; e para decretar a prisão de dois ex-ministros dos governos do PT, em flagrante inobservância ao devido processo legal e ao Estado de Direito.
Tudo sob medida para fornecer munição e alvejar as candidaturas do PT na eleição municipal.
O contorcionismo dos agentes da Lava Jato para livrar de investigação e julgamento os integrantes do governo golpista, não é menos apavorante que esta realidade autoritária. A força-tarefa se esgueira em explicações inexplicáveis que não conseguem ocultar a seletividade e o direcionamento para mirar exclusivamente os “inimigos do regime” e safar os “bandidos do regime”.
Por dois anos e meio, os justiceiros da Lava Jato perseguem e caçam Lula, sem encontrar nenhuma ilegalidade. Apesar disso, e com impressionante petulância, transformam Lula no “comandante máximo”, “no general”, no “maestro” do “maior esquema de corrupção” do país.
Contraditoriamente, entretanto, a força-tarefa não investiga, não processa e não julga Cunha, Temer, Aécio, Jucá, Serra etc – todos, sem exceção, multi-campeões em delações, e donos de sabidas contas bancárias em paraísos fiscais, abastecidas aos milhões, com dinheiro provindo de corrupção na Petrobrás e em outras estatais que controlam.
A oligarquia golpista firmou um grande pacto para a restauração neoliberal na sua versão ultra-reacionária, que combina retrocessos nas conquistas do povo brasileiro, com regressão em matéria de direitos e liberdades civis e a re-colonização do Brasil pelas metrópoles imperiais.
A Lava Jato é um instrumento da oligarquia para aniquilar o PT e destruir a biografia e o legado de Lula, impedindo-o de disputar e vencer a eleição de 2018. A verdadeira disputa em curso não é a eleição do próximo dia 2 de outubro, mas sim a guerra final que a Lava Jato proclamou contra o PT e Lula.
A Lava Jato só acaba quando acabar com o PT. Nesta guerra, não há alternativas: ou vence o fascismo, ou vence a democracia.
Do Estadão
Ivan Sartori, que absolveu PMs envolvidos no massacre de 111 presos na Detenção, condenou homem a 6 meses de cadeia; réu alegou fome, mas o magistrado recusou o argumento e disse que deixar o acusado solto poria em ‘risco a incolumidade pública’
O desembargador Ivan Sartori, relator do processo que anulou os cinco júris que condenaram 74 policiais militares acusados do massacre de 111 presos no Carandiru, mandou para a cadeia um homem acusado de furtar cinco salames de um supermercado em Poá, na Grande São Paulo. A decisão é de julho. No caso do massacre, Sartori foi mais longe que seus colegas: propôs também a absolvição dos PMs, mas foi voto vencido.
Na decisão sobre o acusado de furtar salames, Sartori também foi o relator da apelação do acusado, Edson Castanhal Affonso. O réu havia sido condenado em primeira instância a 6 meses de reclusão pelo furto dos salames, em 2013. Segundo a denúncia do Ministério Público, o homem escondeu os salames debaixo da blusa, na altura da cintura. Um segurança do mercado percebeu e o deteve na rua. Levado à delegacia, ele confessou o crime e disse “que estava desempregado e, como estava com muita fome, acabou furtando a mercadoria”.
A Defensoria Pública pediu a absolvição do acusado, considerando o bem furtado, os motivos que levaram o rapaz a praticar o crime e também o fato de ele ter confessado o delito. Em seu voto, Sartori negou os argumentos da defesa e disse que o acusado, que tem passagens anteriores pelo mesmo crime, é “um infrator contumaz, que faz do crime meio de vida”. Afirmou também que “reconhecer sua incidência em larga escala seria o mesmo que incentivar a prática de pequenos furtos, com o escudo do Judiciário, o que não pode ser tolerado”.
Por fim, Sartori decidiu manter a pena de 6 meses de reclusão e o pagamento de multa. Ele completa o voto afirmando que Affonso “demonstrou desenvoltura na execução do delito” e que sua personalidade é “distorcida”, colocando em “risco a incolumidade pública”. “Particularidade a determinar a que seja ele segregado do meio social.” Por ordem do desembargador, o réu cumpre pena em regime semiaberto, no qual o preso tem direito de sair da prisão durante o dia e deve voltar à noite.
O voto de Sartori foi acompanhado pelos outros dois desembargadores da 4.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), entre eles Camilo Léllis, que também participou do julgamento do caso do Carandiru - Léllis foi contra a absolvição dos PMs, mas votou pela anulação dos júris. O Estado procurou Sartori. A assessoria de imprensa do TJ-SP informou que o desembargador não se manifestaria.
Rigor. Responsável pela anulação dos júris do Carandiru, a 4.ª Câmara Criminal do TJ-SP tem decisões recorrentes cujo conteúdo é considerado rigoroso com réus comuns, dificilmente revertendo penas, segundo criminalistas e entidades. A visão é corroborada por pesquisa da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), que aponta a turma como a que menos atende a apelações em toda a Corte.
A ABJ analisou em 2014 todos os acórdãos das 20 câmaras criminais do TJ-SP. A 4.ª Câmara negou 81% dos pedidos. A média das demais câmaras é de 51%. A posição da 4ª Câmara, porém, é considerada conservadora e benevolente em casos de violência cometida por policiais, como na decisão sobre o massacre da Detenção, em 1992.
Ex-presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) e criminalista, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira reconheceu a fama da turma. “É composta por magistrados muito técnicos, rigorosos e legalistas. A decisão de ontem (sobre o Carandiru) tem um grande significado porque eles demonstraram que se convenceram dos argumentos da defesa. De resto, não costumam ter grande dose de humanidade.”
Diretora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), a advogada Eleonora Rangel Nacif criticou a decisão sobre o Carandiru. “O caso que é uma das maiores violações de direitos humanos do Brasil recebeu tratamento benevolente com os acusados desse crime bárbaro”, disse. “A posição diverge de condenações altíssimas impostas recorrentemente a pequenos traficantes, por exemplo, e outros crimes pequenos. A Câmara é reconhecida por ser dura e raramente soltar réus.” Para Eleonora, a decisão sobre o Carandiru mostra que os magistrados têm uma “visão política alinhada com a repressão violenta das polícias”.
A opinião é compartilhada pelo presidente da ABJ, Marcelo Guedes Nunes, que vê tratamento diferente dado pelo grupo quando são policiais que estão no banco dos réus. “No recurso de uma autoridade, o crime é visto como cometido no estrito exercício da função e acaba recebendo provimento.”
Defesa de PMs elogia turma: ‘Leram o processo’
Responsável pela defesa de 28 dos 74 policiais militares condenados em júris, o advogado Celso Vendramini elogiou a equipe de desembargadores, dizendo que eles “leram todo o processo e notaram as controvérsias da acusação”. “Não é que são duros ou rígidos, eles cumprem a lei. Estou muito feliz que conseguiram enxergar a fragilidade da condenação.”
O defensor disse que entrará com embargos para que o voto do desembargador Sartori, entendendo pela necessidade de absolvição, seja analisado e atendido por dois magistrados que poderão definir o processo. Caso não seja atendido, antecipou que irá a instâncias superiores contestando a decisão, o que deve levar o processo a se arrastar por mais alguns anos.
“É um caso realmente comovente e grave, mas não podemos sair distribuindo acusações, tem de haver provas concretas. Mas, sem saber a autoria, querem condenar por baciada.” 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Hoje pela manhã, ouvi no rádio Miriam Leitão comentando que a reforma de previdência é necessária. "No fundo, a reforma", disse ela,"é fruto de uma boa notícia. Durante os últimos vinte anos, os brasileiros passaram a viver mais. Isso mostra que as políticas públicas foram corretas." Uai, dos últimos vinte anos, treze foram do PT, o partido que a jornalista da Globo odeia. Não entendi.
RCF

Esse é o agressor do Lindbergh!

Vai aparecer no jornal nacional?
publicado 28/09/2016
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) reconheceu o sujeito que o ameaçou na noite de sexta-feira (23/09) na saída de um restaurante. O nome dele é Claudio Roberto Baldaque Guimarães, um valentão que já se envolveu em ocorrências policiais por embriaguês, disparos de arma de fogo e agressão.



Baldaque Guimarães estava no mesmo restaurante em que jantava o senador, acompanhado da mulher e de amigas. Sentado em uma mesa próxima da de Lindbergh, o fascista passou a insultar o petista, gritando: “Quem apoia Lula não pode jantar aqui”.

Quando Lindbergh saía do local, Baldaque Guimarães seguiu-o –sempre gritando e ofendendo. Ridículo, além de violento e covarde, o provocador ainda tirou a camisa, para mostrar sua disposição de partir para o confronto físico. Empurrou a mulher do senador, que caiu no chão, ferindo-se nos braços e pernas.

Lindbergh registrou queixa contra o agressor. E publicou nota na sua página de facebook, pedindo ajuda para que o homem fosse identificado, o que ocorreu nesta tarde (27/9).

Em 14 de julho do ano passado, o mesmo Claudio Roberto Baldaque Guimarães apareceu no noticiário policial, por causa de uma sessão de exibicionismo com arma de fogo. Ele e um amigo, José Daltro Queiroz de Magalhães Junior, foram presos em flagrante depois de fazer selfies com uma pistola automática. 380 na varanda do Lagoon, centro gastronômico de luxo na Lagoa, Zona Sul do Rio.

Segundo o gerente do restaurante, ambos os homens haviam passado horas embriagando-se no local. Quando a PM chegou para dar um paradeiro na loucura, os amigos fizeram de seis a sete disparos para o alto, com o propósito de assustar os policiais. Havia mulheres e crianças no local.

Não para por aí. Baldaque também foi denunciado por comportamento violento em 28 de julho de 2010… Na ocasião, por causa de uma discussão de trânsito, arremessou seu carro contra o do policial Gilmar Pasquini. Na denúncia que fez contra o valentão, Gilmar Pasquini afirmou: [Depois disso, ele] “fugiu em marcha a ré em alta velocidade, tendo derrubado um pedestre de nome Marcio”.

O badboy abandonou no local a mulher que o acompanhava, e ela disse que o havia conhecido naquela noite, sendo que ele se identificou como “Claudio, delegado da polícia federal”. A mulher disse ainda que ele tinha bebido duas garrafas de vinho.

Jornalistas Livres procuraram Claudio Baldaque numa empresa de segurança que aparece ligada a seu nome. Também enviaram mensagem pela página de facebook de sua irmã. Ele não foi localizado.
Fernando Brito, Tijolaço

Dr. Moro, não sai nem uma “condução coercitiva” para o filho de FHC? Ouça o que “Baiano” diz
Primeiro, foi Nestor Cerveró que disse ter recebido ordens para colocar uma empresa ligada ao filho do também então Presidente da República Fernando Henrique Cardos, a PSR, no negócio da Termorio, uma empresa constituída nos tempos do apagão, quando a Petrobras fazia contratos ruinosos para participar do capital e comprar a energia a altíssimo preço, em quantidades asseguradas.
O filho de FHC, Paulo Henrique Cardoso, disse que era tudo mentira de um “encarcerado”
Semana passada, discretamente, divulgou-se o vídeo em que o lobista Fernando Baiano confirma a história, dizendo que recebeu a informação de Delcídio do Amaral, então diretor de Gás e Energia da Petrobras.
O trecho do vídeo está aí, no final do post, para quem quiser assistir. A íntegrapode ser assistida aqui.
Não vai ter inquérito?
Não vai ter “cognição sumária”?
E se fosse o filho do Lula?
O que é uma usina termelétrica perto do aluguel de espaço num galpão para guardar dez caixas?
Não vai ter o Alexandre de Moraes anunciando prisão numa panfletagem?
A Lava Jato é imparcialíssima.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Intelectuais criam manifesto contra autoritarismo jurídico
Face às últimas ações do sistema judiciário brasileiro, em especial o desenrolar da operação Lava Jato atacando um partido específico na véspera das eleições municipais, um grupo de intelectuais, acadêmicos, ex-ministros e escritores criou um manifesto contra o autoritarismo jurídico.
O texto repudia o “uso seletivo e partidarizado praticado por setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal” e contra com assinaturas de personalidades como Leonardo Boff, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Frei Beto, o crítico literário Alfredo Bosi, a psicanalista Cecília Boal, e o sociólogo Michael Lowy, entre outros.
O documento, lançado nesta semana, virou petição online e já conta com mais de 800 assinaturas. Confira aqui.
Veja o texto do manifesto na íntegra:
Cidadania urgente: Basta de autoritarismo jurídico
Basta de autoritarismo no uso seletivo e partidarizado praticado por setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal, estimulados pela grande mídia oligopolizada.
É com indignação que nos manifestamos contra o rompimento continuado do estado democrático de direito no Brasil. Interpretações parciais de procedimentos judiciários, exacerbados e estimulados por um sentimento de ódio que tomou conta de setores privilegiados da sociedade brasileira, empurram nosso país para um retrocesso impensável e negam princípios básicos de respeito a uma ordem democrática tão duramente conquistada na luta contra a ditadura militar.
Tratar a política como crime e os políticos como criminosos é uma demonstração preocupante de ignorância quanto ao funcionamento das sociedades humanas e do lugar da política na construção dos fins da ação pública. Desrespeitar, de forma reiterada, o direito de defesa, coagir pela violência através de suposições de delitos não comprovados, condenar pela imprensa espetaculosa sem levar em conta um elemento central dos direitos civis, que é a presunção de inocência, que atribui ao acusador o ônus de provar a culpa e não o contrário, tudo isso fragiliza a cidadania diante de poderes que podem, facilmente, se tornar tirânicos.
Já é passada a hora de a sociedade brasileira dar um basta a poderes que se colocam acima da lei, que atropelam direitos humanos e civis, e que estão induzindo o país a um conflito que pode ganhar enormes proporções.
Assinaturas iniciais:
Paulo Sergio Pinheiro (cientista político, USP; relator de direitos humanos, ONU)
Wanderley Guilherme dos Santos (cientista político, IESP-UERJ, membro da Academia Brasileira de Ciência)
Marco Lucchesi (Letras-UFRJ, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras)
Leonardo Boff (teólogo)
José Miguel Wisnik (crítico literário, USP, músico)
Roberto Saturnino Braga (ex-senador, Presidente do Centro Internacional Celso Furtado)
Alfredo Bosi (crítico literário, IEA-USP, editor de Estudos Avançados)
Luiz Pinguelli Rosa (físico, COPPE-UFRJ)
Luiz Carlos Bresser-Pereira (professor emérito da FGV; ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e de C&T)
Frei Beto (escritor)
Silke Weber (socióloga UFPE)
Hebe Mattos (historiadora UFF)
Ennio Candotti (físico, ex-presidente SBPC)
Joel Birman (psicanalista, UFRJ)
Luiz Alberto Gomez de Sousa (sociólogo, Universidade Cândido Mendes)
Carlos Morel (biólogo, FIOCRUZ)
Jurandir Freire Costa (psicanalista, UERJ)
Isabel Lustosa (historiadora, Casa Rui Barbosa)
Ricardo Rezende (antropólogo, Escola de Serviço Social – UFRJ)
Afrânio Garcia Jr. (antropólogo, École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris)
Cecília Boal (psicanalista, Teatro do Oprimido)
Moacir Palmeira (antropólogo, Museu Nacional – UFRJ)
Ivo Lesbaupin (sociólogo, ex-presidente da ABONG)
Heloísa Starling (historiadora UFMG)
José Ricardo Ramalho (sociólogo, IFCS, UFRJ)
Dulce Pandolfi (historiadora, CPDOC-FGV)
Adalberto Cardoso (sociólogo IESP-UERJ)
José Sergio Leite Lopes (antropólogo Museu Nacional-CBAE-UFRJ)
Regina Novaes (antropóloga, UFRJ)
Beatriz Heredia (antropóloga, IFCS-CBAE-UFRJ)
Agostinho Guerreiro (engenheiro, ex-presidente do Clube de Engenharia)
Elina Pessanha (antropóloga, IFCS-UFRJ)
Lígia Dabul (antropóloga UFF)
José Roberto Novaes (economista, cineasta, UFRJ)
Patrícia Birman (antropóloga, UERJ)
Sarah Telles (socióloga, PUC-Rio)
Rosilene Alvim (antropóloga, IFCS-UFRJ)
Regina Morel (socióloga, IFCS-UFRJ)
Charles Pessanha (cientista político, UFRJ)
Neide Esterci (antropóloga IFCS-UFRJ)
Ana Heredia (bióloga, editora revistas científicas)
Alba Paiva (psicanalista)
Oscar Acselrad (engenheiro, UFRJ)
Michael Lowy (sociólogo, diretor de pesquisa do CNRS, França)
Gisele Cittadino (Direito, PUC-Rio)

Do Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim


Quem fez a cabeça de Pedro Malan Parente
"Ajuste fiscal" é uma psicopatia
publicado 27/09/2016
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Depois que deixou o Governo Collor, em 1994, Pedro Parente foi trabalhar no FMI, como consultor externo.
Foi quando o ansioso blogueiro o conheceu, no lobby de entrada do prédio sepulcral do Fundo, no 1.990 da Pennsylvania Avenue, a três quarteirões da Casa Branca e a cinco do Department of the Treasury (Ministério da Fazenda), instituições a que se subordina.
Pedro Malan Parente era um obscuro funcionário do Banco do Brasil, ali empregado como “vendedor” da receita do FMI na África.
Angola, por exemplo, foi um dos países a receber, do Mount Sinai instalado em Bretton Woods, via Parente, as lições do neolibelismo.
“Trabalhar” no FMI foi um ingrediente decisivo no recrutamento de Parente para a equipe original do Governo neolibelista do FHC Brasif, Príncipe da Privataria e regente da Privataria Tucana.
Pedro Malan Parente foi trabalhar com Pedro Sampaio Malan, todo-poderoso Ministro da Fazenda, tão poderoso que nem o Padim Pade Cerra conseguiu derrubá-lo, através das “notinhas“ na colona do historialista.
É que Malan tinha o que Cerra não podia oferecer a FHC: a porta de entrada do Fundo Monetário e, portanto, dos bancos credores americanos.
O que fez, definitivamente, a cabeça de Pedro Malan Parente?
Esse que, com a velocidade do Usain Bolt vai acabar de destruir a indústria, ao rasgar a lei doconteúdo nacional, e comprar plataformas para dar emprego na Coreia do Sul e emCingapura.
Pedro Malan Parente não tem nada de original.
Como de resto, esse Golpe só tem original a forma: é o AI-5 de Pagode, como se prova na TV Afiada.
Parente é um sub-produto do Malan (que, como sabe a Lava Jato, mandava e desmandavanas empresas do Eike Batista…)
O livro best-seller “O Quarto Poder – uma outra história” publica dois documentos esclarecedores.
No alto da pagina, aqui, estão as anotações do ansioso blogueiro depois que FHC Brasif, ex-ministro da Fazenda de Itamar e futuro candidato à Presidência, sem que ainda houvesse o Plano Real, prometeu ao FMI vender a Petrobras.
Para obter o aval a um Plano Real que ainda era uma página em branco, ele ofereceu ao diretor-gerente do FMI da época, o frances Michel Camdessus:
- desindexação (como quer agora o Traíra ao desindexar o salário mínimo dos proventos da aposentadoria);
- ajuste fiscal (como a PEC 241 do Traíra);
- e privatização forte;
- concessões de serviço público, água e gás, vender a Petrobras (o que exigirá mexer na Constituição, como ele mexeu), Vale do Rio Doce (que, a mando do Cerra, ele vendeu a preço de banana); e Telebras, o que precisava mexer na Constituição e ele mexeu.
Estava lá a matriz do Pedro Malan, do Pedro Parente e do Meirelles…
(Ah, se o Traíra soubesse o que o Delfim acha do Meirelles…)
Outro documento do livro desenha a construção ideológica do “consultor” do FMI, agora na presidência (interina) da Petrobras.
É o documento abaixo, da lavra de Pedro Malan, o original, Ministro de FHC, enviado ao FMI, em 1999, para anunciar o “AJUSTE FISCAL”!
(É uma obsessão, uma psicopatia…)
O Pedro Sampaio Malan ofereceu ao FMI:
- Banespa, Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES, BNB, BASA, IRB, Vale do Rio Doce e Petrobras!
Precisa desenhar?
Era para entregar tudo, amigo navegante!
Iam vender ate as gengivas do Cerra ao Museum of Natural History de Nova York, seção dos dinossauros.
O Pedro Malan Parente teve a quem sair.
PHA
Em tempo: como tem demonstrado o FMI, o professor Belluzzo e o Requião, nem o FMI acredita mais em "ajuste fiscal". Dá nisso ser provinciano. As ideias custam a chegar - e a ir embora... A Urubóloga ainda vai acabar também no Museum of Natural History, seção de... -PHA
e João Pedro Stédile, do MST:
1.No dia 31 de agosto consolidou-se o golpe judicial/midiático também no Congresso Nacional.

A burguesia concluiu a primeira etapa da conspiração, que vem desde outubro de 2014, para empossar, de qualquer maneira, um governo totalmente subserviente e capaz de jogar todo o peso da crise econômica sobre os ombros da classe trabalhadora.

Agora, está em curso a etapa de acelerar a implementação de medidas neoliberais, que só interessam ao capital financeiro e ao grande capital, aumentando a exploração do trabalho, diminuindo salários, aumentando o desemprego e aplicando um programa de privatizações e ajustes fiscais que envergonham até o FMI.

Todos os dias são anunciadas medidas estapafúrdias que rasgam a CLT, a Constituição e os direitos sociais conquistados a duras penas, por décadas de lutas sociais.

2. Porém, o gostinho da vitória parlamentar durou pouco. O golpe não conseguiu legitimar-se, nem na opinião publica, nem para o povo e desmoralizou-se até a nível internacional.

O presidente impostor foi humilhado na reunião do G-20, em que os demais governantes nem sequer o chamaram por presidente. E ele teve que aproveitar a viagem para ir comprar sapatos num Shopping Center qualquer. Tadinho!

Do ponto de vista jurídico, a farsa caiu quando os senadores não tiveram coragem de imputar a perda de direitos para a presidenta Dilma, revelando assim que não houve crime. E pior, três dias depois, os mesmos senadores aprovaram projeto que legaliza as pedaladas fiscais. Ora, não era crime?

Mas a mais dura resposta veio das ruas. No domingo 4 de setembro, menos de uma semana depois do golpe, mais de cem mil jovens paulistas foram às ruas protestar, levantando as bandeiras de FORA, TEMER, DIRETAS JÁ e NENHUM DIREITO A MENOS. Sem o estímulo de nenhuma rádio ou televisão, totalmente servis aos golpistas.

Depois, no dia 7 de setembro, repetiram-se centenas de manifestações em todo o Brasil, com milhares de brasileiros/as, em torno do ?Grito dos Excluídos?, com as mesmas bandeiras.

E culminou com a classe média dando uma sonora vaia de cinco minutos na abertura das Paralimpíadas no Maracanã.

3.O que será desse governo, ninguém sabe. Do lado da burguesia eles também tem dúvidas. O governo golpista não consegue dar unidade política às forças conservadoras. Seu plano neoliberal não vai tirar o país da crise econômica e política; ao contrario vai agravá-la, trazendo consequências graves para toda população. Os sinais de corrupção de seus membros contradizem com o discurso e os interesses da chamada “Republica de Curitiba”. Por isso o Advogado Geral da União foi demitido sumariamente.

Até quando a mídia e o poder judiciário vão esconder as delações dos empresários, das propinas ilegais que envolvem ilustres ministros e inclusive o presidente impostor?

O governo golpista poderá vir a ser um governo em crise permanente, que só vai desgastar os partidos que o sustentam, como foram os últimos anos do caótico governo Sarney (1985-89). Ou então a burguesia poderá trocá-lo pela via indireta a partir de janeiro de 2017 e colocar algum impostor de maior habilidade e confiança do poder econômico.

De nosso lado, da classe trabalhadora, o tempo de vida útil desse governo deveria ser o mínimo possível. Mas na política, os fatos e a correlação de forças não dependem da vontade e desejos. Depende de força acumulada de cada lado.

E o tempo de sua permanência vai depender de nossa capacidade de mobilizar a classe trabalhadora para assumir essas bandeiras. Até agora ela ficou parada, assistindo apenas, como se o jogo político, não fosse com seu time.

4. As próximas semanas? O governo golpista acelerou sua ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora. Os anúncios quase diários da perda de direitos, da reforma da previdência, da política de subordinação ao capital estrangeiro, com privatizações e venda de terras, da entrega do pré-sal, do gasoduto, da BR distribuidora, e outras riquezas nacionais, estão despertando uma parcela cada vez maior da população e da classe trabalhadora.

Diante disso, várias categorias no campo e na cidade aumentaram suas mobilizações e lutas nacionais, como vem acontecendo com os trabalhadores rurais, os camponeses, os bancários, os metalúrgicos, os professores, os trabalhadores do correio e os servidores públicos.

E num processo de maior articulação dessas lutas setoriais, as centrais sindicais conclamaram a uma paralisação nacional para o dia 22 de setembro.

E como alertam os sindicalistas, isso tudo será um ensaio geral para a deflagração de uma GREVE GERAL contra o governo golpista.

Ao mesmo tempo, em São Paulo, e em um número cada vez maior de cidades, se multiplicam as manifestações, em geral aos domingos, às vezes até auto-convocadas, quase espontâneas, majoritariamente pela juventude e por movimentos das mulheres, clamando cada vez mais alto a necessidade do FORA, TEMER; de DIRETAS JÁ, como uma proposta generosa de que a ordem democrática somente voltará, se o povo tiver o direito de escolher seus representantes nas urnas; por NENHUM DIREITO A MENOS, ou seja contra as medidas do plano neoliberal em curso.

Como vêem, os tamborins estão esquentando, e a luta será cada vez mais intensa.

Vamos à luta, companheiros e companheiras.

João Pedro Stédile

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Conceição Lemes
Na quarta-feira (21/09), o juiz Sérgio Moro aceitou denúncia do Ministério Púbico Federal (MPF) contra o ex-presidente Lula e Dona Marisa, apesar do “não temos provas, mas temos convicção” dos procuradores da Lava Jato.
Na quinta-feira (22/09), o ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma,  Guido Mantega, foi preso pela Polícia Federal (PF) a mando de Moro, na porta de entrada do Hospital Albert Einstein, onde acompanhava a esposa com câncer que ia ser submetida a uma biópsia.
A reação da opinião pública à crueldade foi tamanha que Moro soltou Mantega cinco horas depois, dando a desculpa esfarrapada de que desconheciam o estado de saúde da esposa do ex-ministro.
despacho de Moro para prender Mantega é do dia 16 de setembro, como revelou Fernando Brito, no Tijolaço.
Considerando que Mantega estava na mira deles, é de se supor que estava sendo monitorado, talvez até grampeado.
Como os agentes da PF não tiveram competência para perceber algo tão evidente, como o drama familiar que Mantega estava vivendo? Duvido.
Agora, se eles desconheciam mesmo a situação, por que a PF não abortou a prisão, quando Mantega disse que estava no hospital? Vale lembrar que os policiais foram primeiro à casa do ex-ministro; como não estava, ligaram para o celular dele.
Será por que o show pré-agendado com grande mídia tinha que ser entregue de qualquer jeito, já que a série Espetáculos Lava Jato não pode parar?
Para completar a escalada do arbítrio que na semana passada chegou ao ápice, também na quinta-feira (22/09), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que a Lava Jato não precisa seguir as regras dos processos comuns.
 “Sinceramenteestou com medo porque o estado de direito não está garantindo hoje ao cidadão brasileiro as garantias que ele deve ter. Os episódios dessa semana demonstram bem isso”, alerta Afranio Silva Jardim, em entrevista ao Viomundo. “A comunidade jurídica tem que se rebelar.”
Afranio Silva Jardim é um dos maiores processualistas brasileiros. Há 36 anos leciona Direito do Processo Penal, sendo autor de três obras sobre a matéria.
Mestre e livre-docente em Direito Processual, atualmente é professor associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).  Tem 31 anos de Ministério Público, estando há seis aposentado.
No início da Operação Lava Jato, ele trocou e-mails com o juiz Sérgio Moro sobre questões processuais.
“Quando a Lava Jato estava trabalhando só com o aspecto policial, até elogiei porque ninguém é a favor da corrupção”, conta-nos.
“Porém, quando percebi que a questão era política, mandei um e-mail falando da minha decepção. Ele perguntou por quê. Expliquei. Ele disse que lamentava e, assim, rompemos.”
Afranio Silva Jardim não conhece pessoalmente Moro nem os advogados do ex-presidente Lula.
Na semana retrasada, ele postou em sua página na rede social, e o Viomundo republicou, uma análise arrasadora da denúncia-powerpoint dos procuradores da Lava Jato contra Lula.
Segue a íntegra da entrevista a esta repórter, começando pela gravíssima decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Viomundo – Por 13 a 1, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que a Lava Jato não precisa seguir as regras dos processos comuns.  É um alvará para a “República de Curitiba” agir impunemente fora da lei?
Afranio Silva Jardim – Que vergonha! Estamos vivendo mesmo dias sombrios. Nunca pensei que um tribunal do nosso país chegasse a dizer o que disse: os processos da Lava Jato “trazem problemas inéditos e exigem soluções inéditas”.
Ou seja, o Tribunal Federal passa a reconhecer a existência de dois sistemas jurídicos. Um para os processos comuns e outro para os decorrentes da Operação Lava Jato. Acho até que eles acabam admitindo duas Constituições Federais. Temo que o Tribunal esteja dando um cheque em branco à Lava Jato.
Viomundo – Essa decisão legitima as mais de 200 conduções coercitivas desde o começo da Lava Jato, entre as quais a do ex-presidente Lula, os grampos no escritório dos seus advogados, a divulgação do grampo da conversa dele com a presidenta Dilma e a prisão do ex-ministro Guido Mantega?
Afranio Silva Jardim – A prevalecer este entendimento, sim. Estamos perdidos. Acabou o estado de direito no Brasil. Não haverá mais segurança jurídica. A comunidade jurídica tem que se rebelar.
Viomundo – Em uma palavra, o que achou da prisão de Mantega?
Afranio Silva Jardim – Perversidade! Estamos perdendo o sentido de humanidade, de solidariedade com a dor alheia. O pior é que toda esta virulência se perpetra sob a alegação de estar agasalhada pelo nosso sistema jurídico. Ao menos, nas ditaduras, não há este cinismo.
Estivesse a minha esposa, a minha filha ou um dos meus netos no lugar da esposa do Guido Mantega, a polícia só me tiraria do hospital algemado e arrastado, após me bater muito.
Fico imaginando a agonia dele, na sede da Polícia Federal por várias horas, sem saber da saúde da esposa, se seria ou não levado não para Curitiba… Tudo isso, talvez, caracterize violação à dignidade da pessoa humana.
Viomundo – Juridicamente havia motivo para a prisão preventiva de Mantega?
Afranio Silva Jardim – Não. E, aí, pergunto ao juiz Moro e ao próprio Ministério Público Federal (MPF): por que requerer a prisão preventiva do ex-ministro, considerando que o suposto crime teria se consumado há anos e ele estava convivendo em sociedade em total normalidade, com residência fixa, família constituída, trabalho lícito e bens de raiz? Que conduta ele praticou, nesse intervalo de tempo, para que se presumisse que colocaria em risco a ordem pública ou a coleta da prova?
Assisti ao vídeo de Eike Batista, que teria originado o pedido de prisão de Mantega. Fiquei muito impressionado. E olha que eu tenho experiência.
Mesmo que se admita como verdade absoluta a versão do Eike —  mera hipótese para argumentar–, pergunto ao juiz Moro e ao MPF: onde está o crime de Mantega, que apenas teria solicitado implicitamente um valor pecuniário como doação para pagar dívida de campanha do PT, como diz o próprio Eike?
O direcionamento e a seletividade das perguntas dos procuradores nesse depoimento são tão evidentes que, para efeitos de argumentação, acrescento: por que o Ministério Público Federal estava preocupado apenas com o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, chegando ao cúmulo de dispensar a lista com doações a outros partidos, inclusive PSDB?
Por outro lado, no depoimento do senhor Eike Batista não vi qualquer vinculação desta doação com algum contrato lesivo à Petrobrás, onde ele tivesse algum retorno do que doou.
Viomundo – Na semana passada, o senhor criticou severamente a representação MPF contra o ex-presidente Lula, reduzindo-a a pó. Disse que reprovaria aluno que redigisse denúncia como a que foi apresentada. Supunha que, apesar de a denúncia ser inepta e do“não temos provas, mas temos convicção”, o juiz Moro fosse acatá-la? 
Afranio Silva Jardim — Eu acho que o Moro vai condenar o Lula, o presidente da OAS e fazer uma média, absolvendo a Dona Marisa e alguns executivos da empreiteira. Acho também que o Tribunal Federal da 4ª Região vai manter a condenação.
Viomundo – Tecnicamente a decisão do Moro é correta?
Afranio Silva Jardim – Seja pela denúncia do MPF, seja pela decisão de recebimento do magistrado, me parece que o Moro não está correto tecnicamente. Agora, ele e os procuradores da Lava Jato estão atropelando tudo. O Direito deixa de ser uma garantia do cidadão e o processo passa a ser uma forma de legitimar uma condenação desejada previamente. Como já se disse alhures, nesta situação “prova é só um detalhe, um pretexto para a condenação”.
Viomundo — Em sua decisão, o Moro apresentou alguma prova de que Lula tenha cometido qualquer ilicitude em relação ao caso do tríplex, do armazenamento do arquivo presidencial e aos crimes na Petrobras? 
Afranio Silva Jardim –  Não há qualquer prova, ainda que mínima de uma conduta que tornasse Lula autor, coautor ou partícipe dos crimes praticados pelos funcionários da Petrobras. Tais crimes são comissivos [exigem ação concreta da pessoa para que ocorram] e não há participação por omissão em crime comissivo.
Saber de um esquema criminoso – e eu NÃO estou dizendo que o Lula sabia —  não transforma a pessoa em partícipe de todos os crimes que terceiros venham praticar. Aliás, tanto na denúncia do MPF quanto na decisão do Moro, não se afirmou que Lula sabia que um ou outro contrato da Petrobras era ilegal.
Viomundo — Então juridicamente não tem sentido a decisão do Moro?
Afranio Silva Jardim  — Não prova há de que o Lula contribuiu eficazmente, concretamente, através de, ao menos, uma ordem em relação àqueles contratos lesivos à Petrobras. Não há também sequer alegação a respeito na denúncia do MPF e na decisão do Moro.
Por exemplo, hipoteticamente: não está dito que, no mês de janeiro do ano tal, Lula se encontrou com o Cerveró ou sei lá quem e mandou privilegiar alguém ligado à empresa OAS nos contratos da Petrobras. Não tem nada disso. Se tivesse a alegação, aí, depois nós iríamos procurar uma prova mínima que seja. Mas nem isso tem na denúncia.
Viomundo — Os procuradores dizem ter a convicção de que Lula sabia do esquema criminoso na Petrobras e seria o “chefe”, “maestro”, o “comandante”.
Afranio Silva Jardim  — Mas ninguém prova. O fato de que sabia não significa que é partícipe do crime. Só é participe quem participa, como diz a própria palavra. Participar é contribuir, através de conduta comissiva que tenha eficácia causal.
Não tem nenhuma prova de que o Lula ligou para o diretor da Petrobras e autorizou aquele contrato prejudicial à petroleira. Ou mandou vencer determinada licitação, privilegiando certa empresa. Não tem nenhuma afirmação nesse sentido. Por conseguinte, também não há prova.
Suponhamos que você seja dona de uma grande empresa. Você vai responder lá na ponta por tudo o que seus funcionários fizerem?
— Ah, mas ele se omitiu…
Mas isso não é Direito Penal “do fato”, não há crime sem conduta. Não basta saber para responder pelo crime.
Repito: uma pessoa saber genericamente de esquema criminoso, não provado, não a transforma em autora, coautora ou partícipe. É preciso ter prova, ainda que mínima, de alguma ordem específica dada para o autor imediato praticar o crime.
Viomundo —  Na decisão,  Moro, após falar sobre outras condenações por fraudes na Petrobras, afirma: “questão diferenciada diz respeito ao envolvimento consciente ou não do ex-presidente no esquema criminoso”. Pelo que entendi, ele afirma que o Lula, mesmo tendo envolvimento inconsciente (“ não consciente”) do esquema criminoso, teria agido dolosamente. 
Afranio Silva Jardim –  É o que ele diz. Além disso, que conduta do Lula caracterizaria este “envolvimento consciente”? Se existe tal conduta dolosa, qual a prova mínima neste sentido?
O certo seria verificar e mencionar uma conduta específica de participação direta nos contratos lesivos e individualizados da Petrobras. Até porque sobre esta questão central – a existência ou não de conduta de participação dolosa do Lula em face dos contratos –, o juiz Moro, em sua decisão, usa a genérica expressão “conhecimento e participação dolosa”.
Daí, pergunto: através de que ato, conduta, houve participação dolosa do ex-presidente Lula?
Viomundo – Moro trata disso na decisão?
Afranio Silva Jardim – Não. Apenas se preocupa com a existência ou não de mera ciência de Lula em relação às fraudes em geral. Isso fica evidente quando ele diz que iria individualizar as condutas, mas, na verdade, tudo deduz da suposta circunstância de que o ex-presidente, sendo beneficiário direto das vantagens concedidas pelo grupo OAS, “teria conhecimento de sua origem no esquema criminoso que vitimou a Petrobras”.
Insisto: ter conhecimento de um “esquema criminoso” não transforma a pessoa responsável penalmente por todos os crimes que venham a ser praticados.
Viomundo – Lula já disse trocentas vezes que o tríplex do Guarujá não é dele. Só que o juiz diz que é do Lula, e acabou.
Afranio Silva Jardim  — A questão é surreal. No Direito brasileiro só é proprietário quem tem o contrato da propriedade registrado no Registro Geral de Imóveis por uma escritura pública. No caso, o apartamento está em nome da OAS. Não se transfere a propriedade imobiliária por contrato verbal  e muito menos pelo desejo de comprar o imóvel que se visita.
O próprio Moro reconhece que “não foi formalizada a transferência do apartamento 164-A da OAS para eles”. Depois, apenas assevera que o imóvel tinha sido “destinado” ao acusado.
Moro ainda diz: “Há razoáveis indícios de que o imóvel em questão teria sido destinado, ainda em 2009, pela OAS ao ex-presidente e à sua esposa, sem a contraprestação correspondente, remanescendo porém a OAS como formal proprietária e ocultando a real titularidade”.
A destinação de um imóvel seria uma reserva em favor do pretendente? Destinação de um imóvel já exige o pagamento de seu preço? Que titularidade é esta sem título?
Não se transfere propriedade porque você visita o apartamento, o deseja ou pede que se faça uma obra nele. Não há transferência de propriedade por contrato verbal.
Ainda que o dono da OAS dissesse: Lula, o apartamento é teu. O Lula não é proprietário. No dia em que falecer, o triplex não vai ser inventariado como sendo do dele.
— Ah, mas foi reservado — alguns podem retrucar.
Reservado não quer dizer que foi transferido o patrimônio.
Viomundo – E agora?
Afranio Silva Jardim — O Lula não tem que provar nada, quem tem que provar é a acusação. O ônus da prova é sempre da acusação.
Não há como fazer prova de “fato negativo”, ou seja, fato que não existiu.  É até mesmo questão de pura lógica.
Imagine a seguinte situação.  Alguém vai à tua casa e te acusa de furtar uma caneta. Como vai provar que não roubou? Você não tem como provar fato que não existiu. Só que, assim como o Lula, você poderá ser condenada não porque o juiz tem prova do roubo, mas porque ele tem a convicção de que você roubou a caneta.
Viomundo – E a denúncia contra a Dona Marisa?
Afranio Silva Jardim – A fragilidade da acusação é ainda maior. Visitar um apartamento e sugerir reformas para eventual compra não transforma o visitante em proprietário e não é crime de lavagem de dinheiro.
Moro cita-a em apenas um parágrafo, no qual suscita dúvida sobre o dolo dela. Na verdade, não há nada no inquérito que autorizaria o juiz a dizer que haveria dolo de Dona Marisa. Na verdade, não há prova mínima desse crime. Sem ele, a decisão do juiz é atípica, subjetiva.
Viomundo – Por que processá-la criminalmente?
Afranio Silva Jardim  — De forma não técnica, diria que é uma “maldade”.
Tem que punir o corrupto? Claro que tem. Mas não é a qualquer preço, de qualquer maneira. Não se podem burlar questões técnicas. Se elas são atropeladas, não se tem garantias.
Infelizmente, no caso da Lava Jato, tudo está sendo atropelado, indo de roldão. Isso não pode acontecer.
Do jeito que as coisas estão caminhando, amanhã vão dizer que eu, Afrânio, sabia que o Manoel e João da esquina praticaram crimes, e acabou, estarei condenado…
Um juiz vai dizer: Ah, mas ele (no caso, eu, Afranio) é o chefe, o maestro da corrupção.
Não tem prova? Não processa! Ainda que tivesse prova, eu não poderia responder por todos os crimes que os dois praticaram.
Viomundo – Os advogados de Lula têm denunciado sistematicamente as ilegalidades praticadas pela Lava Jato contra o ex-presidente, violando direitos e garantias O senhor concorda com eles?
Afranio Silva Jardim – Sim, e nós já alertamos para isso. Algumas coisas ilegais e arbitrárias estão muito evidentes na Lava Jato. Por exemplo, as conduções coercitivas.
Primeiro, pelo Código do Processo Penal, só cabe condução coercitiva quando a pessoa é intimada a depor uma primeira vez e deixa de comparecer, sem motivo justificado. E não é isso o que está acontecendo. Lula toda a vez que é chamado comparece.
Segundo, a regra que permite a condução coercitiva não vale para o indiciado, o suspeito ou réu, já que a Constituição de 1988 permite o direito de ele ficar calado.
Ou seja, não cabe a condução coercitiva se a pessoa é suspeita, indiciada ou ré, já que ela tem o direito de ficar calada. O dispositivo do Código do Processo Penal que previa isso não foi acolhido pela Constituição de 1988. Vale dizer, está revogado.
Viomundo – Se a pessoa tem o direito de ficar calada, por que levá-la à força, às 6h da manhã, num camburão para a delegacia, como aconteceu com o Lula em 4 de março e com o Mantega na quinta-feira?
Afranio Silva Jardim – Independentemente do motivo, constrange a pessoa na frente de filhos, pais, vizinhos. E, ainda, fere o seu direito de defesa, já que o advogado não está lá na hora para acompanhar e orientar. Isso aconteceu com o ex-presidente e vários outros indiciados. Pior. Continua acontecendo!
Diferentemente do que acontece quando a pessoa é intimada a depor. Além de ter ela o direito de saber o motivo da intimação para poder se defender, ela tem o direito de consultar o seu advogado, em circunstâncias por ela desejadas.
Outra ilegalidade é a busca domiciliar para apreensão genérica de elementos de provas. Além de ter mandado, a procura não pode na base do “sei lá o que estamos procurando”; tem de ser de coisas determinadas.
Vamos supor que a polícia vá à sua casa porque tem a denúncia de que você vende uísque de contrabando. Para isso, ela tem que ter mandado para apreender o uísque e não o seu relógio, por exemplo.
Portanto, a Polícia Federal não poderia ter revirado a casa do Lula, levantado até o colchão à procura de alguma coisa, que nem mesmo se sabe o que é. Isso é devassa e constrange toda a família.
Também não poderia ter ido à casa do filho dele, arrombado a porta e mexido em tudo, à procura de alguma coisa.
A polícia não pode ir à tua casa cedinho,  bater na porta, se você  não abrir, ela arromba, revista as tuas gavetas, mexe nas tuas roupas íntimas, joga no chão tudo. E depois do acha, não acha, vai embora.
Viomundo – Mas isso é o que a policia faz rotineiramente com os pobres.
Afranio Silva Jardim – Mas a Constituição não permite.  É ilegal.
Lamentavelmente, a grande imprensa, em vez de esclarecer a população de que a polícia não pode agir dessa maneira, ela esconde os abusos ou os justifica.
O correto é parar de fazer com os pobres e não fazer também com os ricos.
Viomundo – Agora, se o Código do Processo Penal e a Constituição não permitem esses abusos, como o Moro, procuradores do MPF e Polícia Federal cometem essas ilegalidades abertamente?
Afranio Silva Jardim – Nós já estamos cansados de falar isso, mas eles ignoram.
Infelizmente, a mídia está deixando passar batido, não denunciando as ilegalidades. O risco, agora, é a conhecida decisão do Tribunal Federal da 4ª. Região.
Viomundo – O Tribunal Federal da 4.a Região já está mantendo a maioria das ilegalidades praticadas pelo juiz Moro e pela Lava Jato. Como fica?
Afranio Silva Jardim – Em Direito, as coisas são complicadas. A avaliação dos fatos é subjetiva. Eu posso acreditar no que diz a testemunha e você, não; e vice-versa. Como a valoração do fato é subjetiva, ela dá margem à disparidade de entendimento.
É comum o juiz querer condenar o sujeito por uma razão x e vai procurar na prova aquilo que atende ao desejo dele. Isso acontece.
Às vezes, o juiz tem impressão muito ruim do réu, e fica predisposto. Aí, ele vai ler o processo buscando elementos para condenar. Isso é do ser humano. É uma limitação.
E quando há questão política envolvida, não há plena imparcialidade minha, sua, nem do Supremo Tribunal Federal. Tem limites.
Daí, um juiz só é perigoso. Daí também, ser bom o colegiado, por ter cabeças diferentes, uma compensa a outra. O Poder Judiciário não pode atropelar a lei, do contrário não se tem garantias.
Porém, o Tribunal Federal da 4ª Região está mantendo a maioria dos atos aparentemente ilegais do juiz Moro e da Lava Jato.
Toda a comunidade jurídica já denunciou isso também. Logo, nós estamos errados e eles certos. Ou comunidade jurídica está certa e o Judiciário está pisando na bola.
Viomundo – A esta altura o juiz Moro já não deveria ter sido declarado suspeito para julgar o ex-presidente Lula?
Afranio Silva Jardim — Se você fizer hoje uma pesquisa no Brasil, 90% das pessoas dirão que o Moro condenará o Lula de alguma forma.
Por que isso? Alguma coisa está errada. Imagine um juiz religioso que tenha julgar uma questão religiosa. A neutralidade nesse caso é muito difícil.
Se eu fosse juiz e o réu tivesse comigo muita afinidade religiosa, política, ideológica, eu não gostaria de julgá-lo, eu me daria por suspeito.
Eu li a lista de suspeições que os advogados de Lula apresentaram em relação ao juiz Moro. Nossa senhora! Há muitos fatos ali que mostram suspeição. Por isso, 90% das pessoas acham que o Moro vai condenar o Lula.
O que teria que fazer? Teria que se afastar todo tipo de suspeição para não ter problema nenhum. Não basta ser imparcial, tem que parecer ser imparcial.
Viomundo — Não é o caso do Moro e da sua turma da Lava Jato?
Afranio Silva Jardim — Mas ele não quer largar o processo, porque ele quer condenar o Lula.
O pessoal da Lava Jato, inclusive ele, acha que estará resolvendo todo o problema da corrupção no Brasil.
Tem uma visão messiânica, meio de salvador da pátria. Perderam o equilíbrio da coisas, os limites do razoável.
Viomundo – E agora?
Afranio Silva Jardim – Os últimos episódios em relação ao Lula e ao ex-ministro Guido Mantega mostram que o estado democrático de direito está abalado, não está valendo muito, não.
Sinceramente, estou com medo porque o estado de direito não está garantindo hoje ao cidadão brasileiro a tranquilidade, as garantias que ele deve ter.
A opinião pública está dividida, há um ódio muito grande e as pessoas não querem mais raciocinar.
Está difícil argumentar que toda pessoa tem direito a um julgamento justo, por isto se fala em “devido processo legal”, “princípio do juiz natural”, “princípio do promotor natural”, etc.
Quando se diz isso, muitos nas redes sociais dizem que se é corrupto, tem que se condenar, e pronto. Está difícil de argumentar, porque está tudo muito envenenado.
Você quer condenar corrupto? Todo mundo quer, mas tem limite. Por isso, recorre-se ao Judiciário.
O processo penal é um instrumento para aplicação da lei penal. Mas preservando o estado democrático social de direito.
Se esses valores vão sendo postergados para punir, é a barbárie. Os fins não justificam os meios.
É melhor deixar um ladrão impune do que condenar um inocente ou mesmo condenar o culpado, atropelando os direitos fundamentais previstos na Constituição.
Viomundo  — Considerando que o Tribunal da 4ª Região legitimou o estado de exceção da Lava Jato, o que fazer agora?
Afrânio Silva Jardim – Acho relevante mobilizar a chamada comunidade jurídica e a sociedade em geral. Entretanto, não bastam manifestações isoladas.
É preciso atuação concreta, imediata e organizada. As entidades vinculadas ao mundo jurídico não podem mais se omitir.
Por que não chamar os professores e os estudantes de direito para irem às ruas, de forma ordeira e responsável?
A atuação formal e institucional fica por conta dos advogados nos processos pertinentes, mas a população pode dizer que não aceita “condenações a qualquer preço”.