terça-feira, 20 de setembro de 2016

por João Sucata
Perrella filho, nomeado secretário dos esportes do atual governo federal não quer saber de ajuste fiscal no futebol.  Perrella pai é senador aecista, pro impeachment, natural que o filho recebesse a secretaria, uma prebenda. Nem neste e nem nas demais recompensas deferidas pelos pro impeachment se viu na mídia manchetes sobre “leilão de cargos para manter governo”.  Explicam: é apenas uma questão de manter a base aliada para aprovar projetos de lei.
No caso, porém, há algo mais: os Perrellas são donos do helicóptero que caiu no interior de Minas, com 445 quilos de cocaína ( e não meia tonelada, como se espalha maldosamente por aí). Estamos em um país onde se descobre e se expõe o pedalinho comprado por um ex presidente da República após dois anos de investigações do TCU, AGU, MPF, PGR, LAVA JATO, RECEITA, SNI (recomposto com outro nome), Polícia Federal, quebra de sigilo bancário, telefônico, tributário. Nem há vazamento do inquérito? Ou será que é a mídia que não divulga?
Bem, o tal secretário deu entrevista a Folha em 19 de setembro onde diz que jogador de futebol ganha muito bem, os clubes são deficitários, tem mesmo que cobrar caro ingressos para jogos, tem que ser ajudados pelo governo, justo que suas dívidas sejam anistiadas etc. Mais um detalhe: os Perrella são meio que donos do Cruzeiro.
Disse Perrella filho, em outras palavras, que a sociedade deve pagar os salários mirabolantes dos jogadores e a irresponsabilidade dos clubes,  que jogadores devem ser tratados como seres especiais. Fala pelo mesmo governo que quer adiar aposentadoria por falta de recursos para a previdência.
Já por diversas vezes governos (portanto não só este) perdoaram dívidas dos clubes. Todos sabemos que é comum jogadores ganhando mais de R$ 300 mil por mês, alguns mais que o dobro, Neymar enquanto no Santos ganhava quase o quádruplo. Robinho que foi do Santos para o Atlético de MG ganha  o triplo. Tudo indica que a remuneração total do centroavante Fred, que foi do Fluminense para o mesmo Atlético também é muito elevado. Ganham muitos milhões quando trocam de clube. Que o homem comum tenha que pagar esse custo é conclusão muito interessante do senhor secretário. Devem mesmo se responsabilizar  pelas dívidas que o Atlético fizer com seus craques, se o clube quebrar?  
De certo modo é a classe média quem anda pagando os altos preços dos ingressos, e revoltada, pois é pesado, mesmo para ela. O povão fugiu dos campos. Até isso perdeu. Um ingresso barato custa R$ 60,00. Pobre consegue assistir um ou outro jogo pela TV aberta. Logo mais teremos no Brasil mais torcedores do Barcelona ou do Chelsea do que do Flamengo ou Corinthians. Apenas a classe média mais bem de vida consegue pagar serviços dos canais fechados da TV Globo, que compraram exclusividade para televisionar os jogos. Além disso, como a TV Globo tem que faturar também com novelas, os jogos durante a semana são marcados para um horário da noite em que trabalhador não tem como assistir, pois no outro dia tem que levantar cedo. Mesmo que assim não fosse, o transporte público, especialmente o metrô,  ou ônibus para bairros da periferia, deixam de circular em horários próximos do fim dos jogos.  Como voltar para casa?
Eis aí mais uma conta que pode nos ser apresentada: anistia para os clubes em vez de exigir deles aresponsabilidade fiscal, o encontro de receita, que não é pouca, com despesas. Os irresponsáveis serão mais uma vez premiados, tanto os jogadores que ganham salários delirantes.
João Sucata

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